sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O Corpo Vivo - Carrossel das Espécies de Ivaldo Bertazzo

Tive a incrível sorte de assistir a tempo (a última apresentação foi em 17/10), o espetáculo da Cia Teatro e Dança Ivaldo Bertazzo "O Corpo Vivo - Carrossel das Espécies". Mais uma vez me senti surpreendido pela beleza, sensibilidade, bom humor e profundidade com que Ivaldo realiza seus trabalhos. De uma forma poética e bem humorada, a coreografia  linda, bailarinos fantásticos e uma trilha sonora capaz de fazer rir e chorar, Ivaldo propõe uma reflexão sobre o corpo humano e seus movimentos. Busca no movimento das espécies, associações com as diversas fases da existência humana, propondo que de uma certa forma, a espécie humana é a única que tem dentro de si todas as outras espécies. No início somos peixes que nadam dentro da barriga da mãe. Depois do nascimento rastejamos como répteis até engatinharmos ou "andarmos de quatro", como os quadrúpedes. O último estágio é o das aves, mas nesse momento o movimento de "voar" só pode ocorrer no mundo da poesia, das idéias, dos sonhos e da imaginação. De acordo com Ivaldo, se não atingirmos esse "estágio do vôo" (da capacidade imaginativa e poética), adoecemos e morremos cedo.
Os diversos movimentos de todas as espécies que "já estão" de uma certa forma dentro das pessoas, podem vir a ser acessados através do processo de reeducação do movimento, que visa ampliar o leque de possibilidades de nos postarmos no mundo. Em uma entrevista dada no programa Metrópolis da TV Cultura, Ivaldo menciona que a postura vertical está cristalizada no homem. Menciona que o bicho homem faz tudo verticalmente e do ponto de vista da saúde (que normalmente tem uma visão evolucionista...), há discussões que conduzem a se atribuir a causa de diversas patologias, ao "excesso de postura vertical": hérnia de disco, hemorróidas, apnéia do sono, joanetes, artrose nos joelhos, prisão de ventre, etc.

Alem de todas características artísticas e poéticas maravilhosas do trabalho de Ivaldo, meu encantamento também se deu pela correspondência teórica de sua visão, com alguns preceitos básicos do psicodrama e da saúde psíquica e existencial: espontaneidade e criatividade como únicas alternativas de se revelar o drama interno e insonsciente. Para o psicodrama o "corpo" é o fundamento existencial onde se apoiam os "diversos atores internos", que interpretam os papéis representativos do "drama sempre inconsciente", a ser vivido por cada pessoa. Esse corpo está cheio de amarras e surge de forma mecanizada, repetitiva e alienada, sempre a serviço desses papéis. Essas amarras foram uma resposta a sua incapacidade de transformar fantasias e pressões, ocorridas num passado distante, mais precisamente nas fases do desenvolvimento orgânico e psíquico (ele já foi peixe, réptil e quadrúpede...), mas que hoje ainda permanecem, tornando-o uma espécie de "porta-voz" desse drama inconsciente. Essa mecanicidade que está cristalizada nesse "corpo", surge como uma barreira que reforça a ilusão de que "não há mais nenhum outro movimento possível". Esse é o "mal maior" responsável por tanto sofrimento psíquico, nos dias de hoje.  Acreditamos piamente que não há mais nada a se fazer...
Alem de todos os problemas de saúde já citados, a chance desse corpo em não atingir o "estágio das aves" e desenvolver sua capacidade poética e imaginativa, é muito grande. Penso que a reeducação do movimento surge como uma das formas desse corpo ampliar seu repertório e seu leque de opções, sendo ao mesmo tempo, o terreno fértil para o surgimento da espontaneidade e da criatividade.

Links para se saber mais sobre Ivaldo Bertazzo: http://twitter.com/ivaldoBertazzo e http://www.facebook.com/profile.php?id=100001249255005#!/profile.php?id=100000053182212

Nenhum comentário:

Postar um comentário