sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Insônia Crônica 4 - Emergência e psicoterapia de apoio

A insônia e seus efeitos iniciais produzem a sensação de que a pessoa conseguirá resolver sozinha essa dificuldade. Muitas vezes isso não acontece e depois de passar muito tempo (as vezes muitos anos) buscando alternativas e lutando contra, é que o sujeito vai finalmente buscar ajuda especializada. E a maior parte dessa demanda se concentra nos ambulatórios do serviço público de saúde, que não está preparado e não tem condições de dar assistência psicológica integral. A opção mais adequada é a utilização da psdicoterapia de apoio, combinada com a clínica interdisciplinar. Como já dissemos antes, a psicoterapia de apoio é orientada para a mudança de comportamento e alívio de sintomas, utilizando-se em especial de técnicas sugestivas, persuasivas, reeducativas e tranqüilizantes. Essa é a forma de tratamento psicológico mais utilizada em pacientes que sofrem de insônia, em função da "emergência"  com que normalmente esses casos se apresentam. Independentemente do tipo de abordagem escolhida pelo(a) psicoterapeuta (psicanalítica, psicodramatista, comportamental, etc...), o que se procura fazer num primeiro momento, é tirar o paciente da crise aguda em que se encontra.

São muitas as abordagens psicoterápicas que produzem resultados positivos no apoio e acolhimento de pacientes acometidos por insônia. As terapias comportamentais são as mais utilizadas e mais reconhecidas cientificamente, por terem realizado ao longo de muito tempo, inúmeras pesquisas com publicação de seus resultados em editoras especializadas. O psicodrama que é a minha abordagem, está sendo avaliado cientificamente através do meu trabalho de mestrado pela UNIFESP. Parte desse trabalho foi realizado em 2009, com  ensaio clínico que envolveu 150 voluntários. Neste momento os dados estão sendo avaliados estatisticamente e, embora ainda necessitem de comprovação, posso dizer de antemão, que os resultados tendem a se assemelhar ao das terapias comportamentais. Pretendo publicar futuramente, um texto específico sobre a utilização do psicodrama no tratamento da insônia crônica, abordando tanto a psicoterapia de apoio, como a psicoterapia profunda.

Os fatores que reconhecidamente podem manter a insônia, são: hábitos inadequados de sono, ausência de uma rotina regular para dormir e acordar e crenças e atitudes disfuncionais sobre o sono (ruminações e preocupações que ocorrem antes e durante a hora de se dormir). As terapias psicológicas comportamentais adotam algumas estratégias que normalmente são bem sucedidas e, visam "quebrar" esse círculo vicioso. Vale lembrar que esse círculo vicioso inclui fatores fisiológicos, psicológicos e comportamentais, tornando sua modificação muito difícil, o que acaba por aumentar em muito a "resistência" do insone. As técnicas mais utilizadas são:
  1. Restrição de sono: A restrição de sono consiste na diminuição do tempo gasto na cama, em que o insone procurou em vão, "pegar no sono". Ou seja, se o sujeito não tem sono, ele deve sair da cama e de preferência, do seu quarto, só retornando no momento em que sentir sono.
  2. Controle de estímulos: Visa estabelecer uma nova associação cognitiva entre a cama e o quarto, com o sentimento de sono. O insone costuma "ruminar" e permanecer acordado, em sua própria cama. Isso faz com que mantenha uma associação "falsa", de que "ir para a cama", significa "ficar preocupado".  Estabelecer essa nova associação implica na implantação de uma nova e rigorosa rotina, que inclui: dormir e acordar, sempre no mesmo horário; evitar cochilos durante o dia; usar a cama e o quarto somente para dormir evitando atividades incompatíveis com o sono como assistir TV, ler e comer; sair da cama após 20 minutos sem conseguir dormir; ir para a cama somente quando estiver cansado e com sono.
  3. Treino em relaxamento: Esse procedimento tem como objetivo a redução da tensão, do estresse e da ansiedade. Tratam-se de técnicas específicas que são praticadas nas sessões de terapia, como: relaxamento muscular progressivo; treinamento autógeno (foca a redução do "acordar"); treino de imaginação; meditação; parada de pensamento, etc.
  4. Terapia Cognitiva: Implica em fornecer informações básicas sobre o sono normal, as diferenças individuais sobre a necessidade de sono e suas diferenças durante a vida. O foco aqui está em modificar crenças e atitudes consideradas "disfuncionais" para com o sono. A infofrmação ajuda o insone a ter mais consciência sobre seus sintomas, diminuindo muito, o excesso de preocupação.
  5. Higiene do sono: Procedimentos gerais que podem ser adotados pelo insone e visam proporcionar uma boa noite de sono: práticas saudáveis como dietas e exercícios, utilização ou não de substâncias, etc; fatores ambientais como luz e temperatura; informações sobre os benefícios de se manter uma boa rotina de sono.
Estudos tem revelado que de 70% a 80% dos pacientes com insônia primária, tiveram benefícios com o tratamento cognitivo comportamental. Esses benefícios podem ser sintetizados em: aumento médio do tempo total de sono entre 30 e 45 minutos; aumento da satisfação com o próprio sono; redução dos sintomas psicológicos; redução do uso de medicação hipnótica.

Um comentário:

  1. Parabéns Manuel seus textos são de grande
    sabedoria,sabe tocar e ajudar as pessoas .
    Gostei muito.
    beijos
    Gilda.

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