O que significa perdoar? Você realmente já perdoou alguém? Você já se perdoou alguma vez? Por que é tão difícil perdoar alguém quando nos sentimos profundamente magoados? Por que é tão difícil se perdoar quando nos arrependemos de uma má decisão ou da falta de alguma decisão? E qual é a importância em se perdoar? Existe algum benefício real em se perdoar? Será que perdoar está exclusivamente relacionado a ficar bem com Deus?
Quando
se fala em perdoar imediatamente um link religioso é acionado: "...
perdoai-os Senhor... eles não sabem o que fazem..." disse Jesus
em seus últimos momentos, diante de um sofrimento brutal. Esta incrível
demonstração de desprendimento tornou-se um forte alicerce do catolicismo e
inunda o imaginário coletivo até os dias de hoje. Normalmente o ato de perdoar
é associado ao exemplo deixado por Jesus para a humanidade. E diante de tamanha
demonstração de amor e desprendimento, corremos o risco de ficarmos estagnados.
Explico: a ideia de que perdoar, por ser uma tarefa tão difícil e tão
improvável, faz com que acreditemos que seja uma tarefa possível somente para
Deus.
Mas do ponto de vista terapêutico, perdoar é perfeitamente possível e é sobre isso que pretendo tratar aqui. Perdoar é muito importante para a boa saúde mental e emocional, porque está associado a se jogar fora o lixo que alguém ou alguma situação da vida depositou dentro de nós. Significa se livrar de uma sensação extenuante de se estar enxugando gelo, de se estar em looping e refém de sentimentos angustiantes de raiva, impotência e baixa estima. Abrimos espaço interno para recuperar o protagonismo da própria vida. Estes sentimentos angustiantes quando cristalizados, atuam como tumores que drenam a energia da pessoa, impedindo-a de ser espontânea, criativa, produtiva e de tomar decisões mais adequadas na vida.
Também é preciso esclarecer que
Dependendo da intensidade da mágoa gerada, perdoar torna-se uma tarefa realmente muito difícil e muito dolorosa de se realizar. Quase sempre podemos precisar de ajuda para realizá-la. Qualquer pessoa que se comprometa consigo mesma, até mesmo aquelas que sofreram perdas devastadoras, podem conseguir. Talvez a maior dificuldade em se perdoar esteja relacionada ao sentimento angustiante de impotência e estagnação que experimentamos diante da agressividade desmedida, ou simples desconsideração de outras pessoas para conosco. Quando percebemos ausência de culpa e de sinais de preocupação e reparação quando agem mal conosco, nos sentimos estagnados e impotentes. Sentimentos tão angustiantes podem fazer brotar a necessidade do revide, calcados na ilusão de que fazendo sofrer em dobro aquele que me fez sofrer, meu sentimento angustiante de impotência e estagnação irá se dissipar. Na verdade, nesta condição nos tornamos reféns e coadjuvantes dos próprios sentimentos. Presos no looping da angústia onde as ações e desejos dos outros ditarão as regras de como iremos nos sentir. E diante de sentimentos tão ruins, como pensar em perdoar?
Pois
bem, perdoar só é possível a partir de uma firme decisão pessoal. O sujeito
precisa escolher realmente sair da incômoda condição de coadjuvante, para
protagonista da própria vida. Precisa decidir em ser o único responsável pelos próprios
sentimentos. Ao fazer isso, tira a responsabilidade sobre seus sentimentos,
daquele que lhe fez sofrer - a culpa por como está se sentindo arrasado, não será mais
dos outros. Em não sendo mais dos outros, agora sim pode se responsabilizar e mudar essa condição. E para isso existem técnicas e reflexões terapêuticas que buscam
facilitar essa enorme empreitada, aumentando muito a chance de se cumpri-la.