Em outras palavras, a "cura" para a psicoterapia tem um significado muito diferente, por exemplo, da "cura" de uma cirurgia, onde um tumor tenha sido estirpado. Neste segundo caso, a "cura" levou de volta o paciente, ao seu estado "de normalidade", anterior à sua doença. Para a psicoterapia, a "cura" é a atenuação ou o dissolvimento do sofrimento psíquico, permitindo que o indivíduo possa vivenciar um estado de equilíbrio emocional, onde suas potencialidades possam ser expressadas e realizadas. Isso significa que uma pessoa que tenha predisposição fisiológica para a insônia, continuará tendo a mesma predisposição, mesmo que venha a fazer psicoterapia. Mas provavelmente aprenderá a conviver com isso, aprendendo a respeitar os limites de sua história e de sua constituição. Uma psicoterapia é uma experiência que transforma, mas ao custo de uma mudança. Quando se termina um processo terapêutico, o sujeito não está sem um tumor ou sem uma dor, o sujeito está "outro sujeito".
Um outro fator importante que deve ser considerado, é a confiança ou desconfiança em determinado tipo de tratamento. Já ouvi queixas de pacientes que tinham receio em tomar medicações receitadas por seus médicos. Nesses casos, quase sempre as medicações, ou não produziam o efeito desejado, ou se produziam, eram resultados muito singelos. O mesmo acontece na psicoterapia. Se não há confiança no profissional ou no tratamento, seus resultados são inócuos. Esse fenômeno é muito bem explicado pela psicanálise, em obras inteiras que referem-se a esse assunto como "o estudo da transferência". Para falar sobre a "transferência", seria necessário se escrever muito, em várias postagens e esse não é meu objetivo aqui. Mas a "transferência" pode ser traduzida aqui como a "confiança" depositada no profissional ou no tratamento que está sendo proposto. Ela não se define ou pode ser alcançada de modo racional e objetivo. Ela simplesmente acontece, ou não acontece. Estudos científicos que tratam esse assunto já demonstraram que "o remédio" receitado por um médico que goza da "confiança" de seu paciente, tem um resultado muito mais efetivo do que se fosse ao contrário.
Voltando a psicoterapia para tratamento de insônia: Pois bem, sabe-se que somente o uso de medicações para combater a insônia, muitas vezes produz um resultado abaixo do esperado. Isso pode ser demonstrado pelos inúmeros casos de pacientes que se vêem obrigados a procurar por seus médicos, solicitando a troca da medicação, ou o aumento da dosagem. Isso pode ocorrer em função de dois fatores potenciais: 1) A origem multifatorial da insônia - como já dissemos antes, existem fatores fisiológicos, psicológicos e comportamentais que podem estar influenciando o quadro de insônia. Por exemplo, um paciente toma a medicação para a insônia, mas não modifica seus hábitos tornando seu efeito ao longo do tempo, abaixo do esperado.
2) O resultado relativo de algumas medicações, quando são utilizadas por um longo tempo, podem causar dependência e também o indesejado efeito "rebote" (efeito rebote significa que o remédio passa a fazer efeito contrário ao seu propósito inicial). Ao mesmo tempo, é impossível se aplicar técnicas psicológicas que estimulem o autoconhecimento e o amadurecimento emocional, em pacientes que estão em um quadro agudo de depressão, ansiedade e insônia. Sem a ajuda do "remédio", o tratamento psicológico não fará progressos e nem se estabelecerá, pela impossibilidade do paciente e do terapeuta, em construir um vínculo que permita esse trânsito (a transferência relatada acima).
Nesses casos a busca mais importante a se fazer, é a busca pela remissão dos sintomas, da maneira mais rápida possível. É preciso se ajudar o cliente a sair de um quadro agudo, buscando diminuir rapidamente, seu sofrimento. Nesse momento a psicoterapia torna-se "de apoio", combinando sua atuação (que pode ter várias formas e maneiras, dependendo de cada caso), com o uso de medicação prescrita por um médico especializado. Uma vez "estabilizado" o quadro, a psicoterapia pode (ou não) evoluir para uma segunda etapa, onde questões inconscientes mais profundas tornam-se mais evidentes e passam a ser o foco do trabalho.Essa combinação tem produzido efeitos significativos em pacientes que sofrem de insônia. Os resultados mais conhecidos passam desde a a redução de dosagens das medicações prescritas, até a abolição de seu uso, por completo. Para quem quiser saber mais sobre esse assunto, há um artigo científico inteiro que demonstra que a psicoterapia combinada com o uso de medicação benzodiazepínica, produziu os melhores resultados em pacientes acometidos por insônia crônica (Dose-Response Effects of Cognitive-Behavioral Insomnia Therapy: A Randomized Clinical Trial - Jack D. Edinger, PhD1,2; William K. Wohlgemuth, PhD3; Rodney A. Radtke, MD2; Cynthia J. Coffman, PhD1,2; Colleen E. Carney, PhD2).
Vou começar a te dar trabalho, já que é assim..parabens
ResponderExcluirCaro Manoel,
ResponderExcluirGostei muito artigo, não só pelo que fala sobra a insônia, mas sim o qto a psicoterapia é importante na vida das pessoas. Pena que ainda existe um pouco de resistência das pessoas.
Parabéns !
Fátima