Recentemente tive o imenso prazer em assistir Julie&Julia (Meryl Streep é Julia Child e Amy Adams é Julie Powell - Direção: Nora Ephron; Roteiro: Julie Powell (livro), Alex Prud'homme (livro), Nora Ephron (roteiro), Julia Child (livro); Gênero: Biografia/Comédia/Drama/Romance; Duração: 123 minutos; EUA/2009).
O filme foi baseado em duas histórias reais que ocorreram em tempos diferentes: A primeira história é de Julia Child, pseudônimo de Julia Carolyn McWilliams (Pasadena, 15 de agosto de 1912 — Santa Bárbara, 13 de agosto de 2004) que foi uma autora de livros de culinária e apresentadora de televisão americana. Child aprendeu a cozinhar a partir de 1948 (período em que morou em Paris com seu marido Paul Child (Stanley Tucci) adido cultural americano, em missão na capital francesa) Entediada com a vida que levava, procurou entretenimento com os cursos considerados mais comuns e recomendados para as donas de casa da época (construção de chapéus, corte e costura, decoração, etc). Contrariando as expectativas da época, acabou optando por estudar e se formar na renomada escola de culinária "Le Cordon Bleu", um curso que nessa época costumava ser frequentado somente por homens. Embora contasse com o apoio incondicional de seu marido Paul (um homem que de certa forma também estava a frente de seu tempo), Child encontrava resistências da diretora do curso (seu maior desafeto) e de seus colegas de sala de aula (todos homens). Seu objetivo era criar um livro de receitas para todas as americanas que não contassem com os serviços de uma cozinheira, ou seja, pessoas comuns.
A segunda história é de Julie Powell e se passa em Nova York em 2002. Powell, então com 30 anos, é uma pretensa escritora e funcionária pública que resolve combater o tédio com a publicação diária, através de um blog, das receitas do livro de Julia Child. Seu compromisso era o de preparar a receita e depois divulgá-la, durante 1 ano (365 dias). Como o número de receitas era de 524, isso significava o incrível desafio de cozinhar e publicar, mais de uma receita por dia. Powell, como Child, também possuia um rol de amizades incompatível com sua busca por um novo caminho, uma nova vida. Outra semelhança entre as duas, foi o apoio incodicional de seu marido (Cris Messina como Eric Powell). Eric valorizava e compreendia a angústia de Powell, exatamente como Paul em relação a Child. embora tenham vivido em décadas muito diferentes.
Alem da deliciosa forma como o filme foi concebido e desenvolvido, a trilha sonora fantástica e a interpretação maravilhosa de Meryl Streep, fui muito tocado por questões que têm estado muito presentes em meu consultório e em muitas reuniões de amigos cinquentões: a eterna busca em identificar a missão individual/vocação e a coragem em dizer “não” aos sistemas maiores que costumam reger nossos destinos.
O filme revela a angústia e o descontentamento de duas mulheres que viveram em tempos diferentes, e a deliciosa forma como decidiram lidar com esses sentimentos, tornando-os públicos (diziam a todos sobre seu descontentamento), enfrentando-os e transformando-os! As armas que puderam utilizar: a espontaneidade e a criatividade através de ações cotidianas simples, que estavam ao seu alcance de seus braços. Mudaram suas vidas e ao mesmo tempo as vidas de milhares de pessoas. Produziram respostas novas para questões muito antigas ampliando seu repertório individual e também o repertório coletivo, de milhares de mulheres "sem cozinheira".
Amei este filme pq adoro cozinhar e preparar pratos. Como numa receita bem preparada, sentimos o gosto do lado feminino que é misturado e retratado de maneira saborosa. Seu escrito entra como um belo tempero.
ResponderExcluirCarmem