sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ronco e Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS)

Não é raro pessoas me procurarem para fazer psicoterapia com queixas de insônia, depressão, sinais de impotência e problemas conjugais e profissionais generalizados. Em alguns casos, após uma boa entrevista inicial, surgem evidências muito sugestivas de que a origem de tais problemas não está totalmente calcada em problemas e dificuldades emocionais. A pessoa apresenta sintomas semelhantes a alguém que não dormiu: sente-se sem energia, com baixa libido e muito embotada. Mas a causa desses sintomas pode estar associada não a insônia ou a depressão, e sim a apnéia do sono. A palavra “apnéia” vem do grego e significa “vontade de respirar”.

Ronco e apnéia estão associados aos "distúrbios respiratórios ligados ao sono" e basicamente ocorrem por algum tipo de obstrução das vias respiratórias. Quando a obstrução é total (SAOS - síndrome da apnéia obstrutiva do sono), a respiração cessa totalmente por 10 ou mais segundos, devido ao colabamento da via respiratoria. Quando a obstrução é parcial (SARVAS - síndrome do aumento da resistência da via aérea superior), ocorre o consequente aumento do esforço respiratório causando o ruído que chamamos de ronco. Outros problemas de origem neurológica e não obstrutiva, também podem causar a cessação da respiração. Nesses casos o quadro clínico é chamado de Apnéia Central.

O ronco (SARVAS) é um evento muito comum em que a maioria das pessoas já teve algum tipo de contato. Não é raro alguém já ter ouvido o ronco de outras pessoas dormindo em salas de espera, aviões, etc. Já a apnéia, é mais rara de ser presenciada dessa forma. Os depoimentos mais assertivos são dados por cônjuges ou familiares que dormem no mesmo quarto e podem ser testemunhas de eventos que envolvam o parceiro ou algum outro membro da família. Há casos em que o parceiro(a) se vê obrigado a mudar de quarto para conseguir dormir. Este é um fator social negativo que quase sempre é capaz de gerar prejuízos emocionais e de convivência.

O índice de prevalência (percentual da quantidade de pessoas afetadas na população geral) da apnéia do sono, gira entre 2% e 5%, com predominância na população entre 30 e 60 anos. A incidência desse distúrbio aumenta com a idade e também é predominante no sexo masculino. Distúrbios respiratórios do sono estão diretamente associados ao aumento do número de despertares durante o sono, impedindo a seqüência natural do sono restaurador. Devido à dificuldade em respirar, a pessoa acaba "despertando" várias vezes durante a noite, não permitindo que o sono ocorra sem interrupções e com qualidade. Esses "pequenos despertares" chamados tecnicamente de"microdespertares", normalmente ocorrem sem que a pessoa tenha consciência e lembrança de que acordou muitas vezes, para “normalizar” sua respiração. Isso tem o mesmo efeito que os "cutucões" que são dados pelos parceiros de cama, em pessoas que estão roncando muito alto. Com o "cutucão", a pessoa tem um "microdespertar" e para de roncar, normalizando a respiração. Assim que volta a dormir e relaxar, o ronco reaparece.
Como resultado há uma importante diminuição da qualidade de vida e do bem-estar. Os sintomas mais comuns: Sonolência excessiva diurna (SED)- embora a pessoa tenha passado de 8 a 10 horas na cama, sente-se muito cansada durante o dia, com necessidade de cochilar muitas vezes, sem ânimo e energia para quaisquer atividades. Muitas das causas de acidentes no trabalho, no trânsito e domésticos, podem estar associadas, em função das capacidades de atenção, memória e concentração sofrerem uma drástica diminuição. Outros problemas de natureza fisiológica também estão associados: alterações do metabolismo, obesidade, hipertensão arterial, diminuição da libido, impotência sexual, surgimento de quadros depressivos entre outros. Não é raro a depressão diminuir ou ser vencida, após o tratamento adequado da apnéia. A pessoa reconquista a vitalidade e a vontade de viver.

A avaliação clínica desses distúrbios deve ser feita por um médico especializado no sono, e também através de exames complementares, em especial a PSG (polissonografia), de acordo com a necessidade que o médico indicar para cada caso. A partir da avaliação correta e segura, o tratamento é planejado de forma a garantir o procedimento mais adequado para cada pessoa, levando em conta o estado da saúde geral do paciente e também a relação com outras doenças que podem ser secundárias ou não, à apnéia.

Um comentário:

  1. Convivo com alguém que tem apnéia e o uso da màscara foi um sucesso, apesar da dificil adaptaçao do inicio. Claro que a maior parte das pessoas com quem falamos têm muito preconceito em relaçao à idéia, mas meu marido està felicissimo e leva sua màscara para todos os lugares aonde vamos !

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