sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ansiedade

"A ansiedade é um sinal de alerta, que adverte sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar medidas para enfrentar as ameaças que está sofrendo. O sentimento de medo é uma resposta para uma ameaça conhecida e  definida; ansiedade é uma resposta para uma ameaça desconhecida, vaga, que ainda está "para surgir". A ansiedade prepara o indivíduo para lidar com situações que podem ser danosas, como punições ou privações, ou qualquer ameaça a unidade ou integridade pessoal, tanto física como moral. Desta forma, a ansiedade prepara o organismo a tomar as medidas necessárias para impedir a concretização desses possíveis prejuízos, ou pelo menos diminuir suas conseqüências. Portanto a ansiedade é uma reação natural e necessária para a auto-preservação. Não é um estado normal, mas é uma reação normal, assim como a febre não é um estado normal, mas uma reação normal a uma infecção."
Em outras palavras, ansiedade significa "medo antecipado", com a finalidade de auto-proteção. A grande dificuldade é se estabelecer com a mesma clareza, uma explicação plausível para surtos de ansiedade em adultos, sem nenhuma causa aparente, sem nenhuma forma de controle e com efeitos devastadores na saúde geral da pessoa acometida: insônia psicofisiológica, enurese, problemas digestivos, gastrite, pânico, estresse, etc.  A ansiedade é considerada normal na infância e está associada ao amadurecimento emocional e ao consequente desenvolvimento da capacidade da pessoa em lidar com as situações desestabilizantes da vida. Falhas ou interrupções no processo de amadurecimento emocional, causadas normalmente por questões ambientais (o ambiente como facilitador do desenvolvimento emocional da criança), pode estar associado ao surgimento, mais tarde, na vida adulta, da ansiedade patológica. O tratamento psicológico da ansiedade pode ser visto como uma tentativa de "retomada" do desenvolvimento emocional, com o propósito de facilitar o surgimento de uma nova significação para os fatores emocionais desestabilizadores. Esse "retorno" é a oportunidade da pessoa se deparar com suas questões e resolvê-las de forma segura e efetiva, através da criatividade e espontaneidade - surgirão respostas novas para questões antigas.

As pessoas que normalmente procuram por ajuda psicológica para tratar a ansiedade já passaram por vários tipos de tratamentos. O mais comum é o medicamentoso que, muitas vezes produz a ilusão de que somente o "remédio" irá trazer alívio e resolver os problemas. Com a remissão dos sintomas indesejados e, dependendo do tipo de medicação ministrada, a pessoa passa a "depender" do remédio para poder seguir adiante. Esse é o grande risco de se tratar um surto de ansiedade ou outros problemas emocionais, considerando-os através da ótica do diagnóstico, que considera apenas fatores orgânicos. Dependendo da gravidade do caso, um médico que esteja mais familiarizado com a psicologia iria contentar-se em manter o caso em observação e acompanhamento e, não fazer nada, a não ser colocar-se como amigo e recomendar psicoterapia para seu cliente. Ele saberia que frustrações, desapontamentos e perdas são desequilíbrios emocionais que dependem única e exclusivamente da própria pessoa para serem verdadeiramente superados. Hoje em dia existem muitas discussões teóricas encaminhadas, que já reconhecem o valor da psicoterapia realizada em conjunto com o tratamento medicamentoso. Colhi alguns exemplos descritos por D.W.Winnicott ("Da Pediatria à Psicanálise, Obras Escolhidas", Imago Editora, 2000, Rio de Janeiro, pg.59): "Se a enurese é entendida como um distúrbio da glândula tireóide ou pituitária, permanece a questão dos motivos pelos quais essas glândulas são afetadas com tanta frequência desta maneira. Se o vômito recorrente é explicado por meio da bioquímica, fica faltando perguntar: que motivos levam esse equilíbrio bioquímico a sofrer tais perturbações, quando sabemos que, ao que tudo indica, que os tecidos vivos tendem a estabilidade?"
É óbvio e claro que na maioria das vezes a pessoa irá precisar de apoio e ajuda psicológica, para conseguir atravessar esses momentos difíceis da vida. Mas é preciso ficar claro que a verdadeira superação dos problemas só será realizada pela própria pessoa. Entre outras coisas, a ajuda do psicoterapeuta consiste em "estar junto", ser "continente" e "ser um facilitador" para que a pessoa tenha a oportunidade de vivenciar suas dificuldades em um "ambiente recriado" e, possa dar um novo significado à aquilo que lhe traz sofrimento.

Um comentário:

  1. quando entrei no grupo de insonia na Unifesp, estava procurando o local, completamente perdida, e a sua resposta às minhas perguntas foi _ Está claro para mim que você sofre de ansiedade. Vários outros estavam na mesma situação, porém mais "anestesiados", com uma atitude passiva e quase indiferente. Pode parecer mais educado, mas custo a acreditar que a mente da pessoa permaneça tranquila diante do novo, da dúvida, da dificuldade. Ser bem educado, religioso, ou sorridente nem sempre mostra a ausência de ansiedade.

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