sexta-feira, 29 de julho de 2011

O jogo e a brincadeira na educação e na psicoterapia

Um assunto intrigante é a reconhecida capacidade que os jogos e as brincadeiras possuem em ajudar o homem a interpretar e significar a realidade a sua volta. A fase pré-escolar da "aprendizagem" já foi amplamente associada com jogos e brincadeiras, tanto pela pedagogia como pela psicologia do desenvolvimento.  Mais do que "descarregar energias", os brinquedos e as brincadeiras facilitam para que a criança pense sobre suas experiências emocionais e  possa reconhecer seu potencial. O mesmo ocorre com pessoas adultas que, não raro, conseguem ultrapassar dificuldades emocionais muito sérias em suas vidas, em sessões de psicoterapia em que o lúdico é utilizado como ferramenta. Diante de dificuldades e situações inusitadas, a atividade lúdica costuma ser um caminho que conduz para ações espontâneas e criativas.  Já disse em outras oportunidades que a espontaneidade e a criatividade são as verdadeiras formas que dispomos para fornecer respostas novas, para questões antigas. Alguns autores como Karl Groos (1940), chegam a esboçar teorias de que os inventos primitivos, como por exemplo, o domínio do fogo, provavelmente surgiram através do envolvimento lúdico com as coisas. Winnicott (1975) menciona que: "... é no brincar que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral." 
Na psicoterapia individual ou de grupo, o psicodrama é uma abordagem que utiliza o jogo e o brinquedo como um princípio de autotratamento. J.L. Moreno (o criador do psicodrama) já dizia que "a brincadeira sempre existiu, e é mais velha que a humanidade..." (Psicodrama e Psicoterapia de Grupo, p. 110). Foi através do "princípio do jogo" que as fundações do psicodrama se originaram, quando Moreno passou a brincar com crianças nas ruas e jardins de Viena. Desde então o psicodrama transformou o jogo em um princípio metódico e sistemático. Arrisco dizer que, por sua ação lúdica e criativa, o jogo produziu novas e criativas idéias que levaram Moreno ao "teatro de improvisação" e, mais tarde, ao teatro terapêutico.

Pensadores como Pestalozzi, Froebel e Rousseau produziram idéias e conceitos que demonstram, do ponto de vista filosófico, o valor educacional da brincadeira e do jogo. Froebel em especial, sistematizou conceitos que influenciaram e influenciam até hoje a pedagogia e a psicologia do desenvolvimento. Friedrich Froebel (1782 - 1852) foi um pensador alemão que viveu sob a influência libertadora do iluminismo e produziu uma pedagogia que procurava explicar o desenvolvimento humano. Frobel foi o criador do "Jardim de Infância", uma idéia que foi muito revolucionária em sua época, embora tenha morrido sem poder ver sua criação em pleno funcionamento. Em seu livro "A educação do homem", dá ênfase ao desenvolvimento infantil afirmando que Deus é o princípio de todas as coisas e que a vida do homem deve harmonizar-se com a sua divindade e a de todas as outras criações divinas. Procurando cultivar e descobrir dentro de si mesmo a sua própria essência divina, o homem será capaz de exteriorizá-la através de suas próprias criações. Para Frobel, o caminho para essa procura interna está na harmonização com a natureza, como sendo a maior criação divina. A essência de seu pensamento foi sistematizada através de um triângulo que representava a "unidade vital" do homem: Deus, natureza e homem. Através dos processos de "interiorização" (recebimento de estímulos e conhecimentos do mundo exterior) e "exteriorização" (respostas dadas pela criança que expressam a transformação daquilo que recebeu do mundo exterior, por seu conteúdo singular e sagrado), que surgirá a autoconsciência de seu ser e a educação.
Os processos de "interiorização" e "exteriorização" precisam de ação para mediá-los, necessitam de vida e atividade, não de palavras e nem de conceitos. A arte e o jogo são as melhores ferramentas.

2 comentários:

  1. Muito legal e faz todo o sentido! No filme "A guerra do fogo", que mostra a importância e o poder que os bandos teriam em "possuir o fogo",matando e roubando uma chama singela que era mantida a duras penas por aqueles que "tinham o fogo". A aldeia que conhecia como produzir fogo não precisava se preocupar com isso. Apenas faziam o fogo quando era necessário. Curiosamente eram os que não matavam e roubavam, eram amáveis e também se divertiam muito porque brincavam o tempo todo. Muito legal!

    Fernanda Figueiredo

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  2. Deve ser essa a explicação para o fato de que viver de bom humor traz saúde!

    Paulo

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