Em uma conversa informal com um amigo esclarecido (aquelas de cafezinho, de 5 minutos), reaprendi "verdadeiramente" alguns conceitos que já conhecia, mas não me lembrava mais. Falávamos sobre a terrível dificuldade e preocupação que muitos pais enfrentam na hora das refeições de suas crianças, em especial as crianças que se recusam sistematicamente a comer. Como pai posso dizer o quanto é desesperador ver sua criança negar e recusar qualquer refeição. Seja uma bela e saborosa sopa contendo todos os nutrientes recomendados pela pediatra, ou um mingau docinho, ou até mesmo uma sobremesa. Também existem casos de mães desesperadas que não sabem mais o que fazer para evitar que seus filhos comam excessivamente, vendo-se obrigadas em muitas situações, a esconder comida em armários. Neste último caso, costuma demorar mais tempo para os pais perceberem que algo está errado. Penso que essa demora ocorra em função de ser muito prazeroso ver seu bebê e depois sua criança muito pequena comendo "muito bem" (essa expressão é relativa!). Somente depois de um bom tempo, quando a criança já está muito acima do peso e em alguns casos encontra dificuldades para brincar e se relacionar, é que os pais passam a perceber que algo precisa ser feito.
Voltando a conversa que tive com meu amigo, o que ouvi dele foi muito simples e muito assertivo: "É preciso separar o que é da criança e o que é dos pais e, ao mesmo tempo, bloquear as ações que correspondam somente, as necessidades emocionais dos pais". Em outras palavras: Se a criança está sem apetite e deseja comer pouco ou quase nada, isso precisa ser percebido e respeitado. A insistência para que a criança coma é uma necessidade inconsciente do adulto e de sua história, não da criança. Por mais estranho que possa parecer, o corpo de crianças saudáveis, física e mentalmente, sabe de quanto alimento necessita. Pesquisei esse assunto num livro muito interessante ("Filhos: Manual de Instruções" de Tania Zagury) que quero reproduzir e compartilhar um pequeno trecho aqui: "Criança (sadia) que não come bem é: a) A que tem pais que acham que ela não come bem; b) A que vive com pessoas que ignoram que não há registro na literatura científica de crianças que morreram de fome - tendo comida ao seu alcance; c) Aquela que descobriu que comer ou não comer é arma valiosa e poderoso instrumento de troca; d) Aquela cujos pais se desesperam quando ela diz "não quero comer", alimentando assim um ciclo vicioso de ansiedade e luta de poder. Criança (sadia) que come bem é aquela: a) Cujos pais não fazem aviãozinho, "senão ela não come"...; b) Cujos pais não andam atrás dela pela casa, desesperados, com um prato de comida numa das mãos e a colher na outra, esperando um momento de distração, para lhe enfiar uma colheradinha a mais goela abaixo; c) Que, simplesmente senta à mesa e come; d) Que não está acima do peso". É muito importante frisar que essas recomendações são feitas para crianças saudáveis!
Alimentar os filhos está intimamente associado com "cuidar" que pode ser traduzido como uma "prova de amor" dada pelos pais, especialmente pelas mães, que são as responsáveis diretas pela amamentação. Hoje em dia, homens e mulheres são responsáveis pela manutenção da casa. De acordo com índices do IBGE, 44% da força de trabalho brasileira é composta por mulheres. Por precisarem trabalhar para ganhar o sustento, as crianças são encaminhadas desde muito cedo para a pré-escola, ou para os cuidados de uma babá. Um excelente mecanismo inconsciente de compensação por parte dos pais pode estar associado com os cuidados excessivos com a alimentação dos filhos. A falta da percepção e observação das fronteiras que separam as questões do adulto, com as reais necessidades da criança, pode vir a favorecer o reforço exacerbado de um vínculo indesejado: o apetite (ou a falta de...), com a defesa contra a ansiedade, muito presente no processo de desenvolvimento emocional da criança. A psicanálise e a psicologia fazem uma associação dos distúrbios do apetite com dificuldades emocionais e doenças psiquiátricas. A criança sem apetite está com sua voracidade inibida, provavelmente por não confiar no alimento que está recebendo. Seu desejo é colocá-lo para fora de seu corpo. Outros sintomas que costumam estar associados com a inibição da voracidade: falta de apetite crônica, nervosismo excessivo e pesadelos frequentes, Ao perceber que algo está errado cabe ao adulto bloquear as ações inconvenientes resultantes de sua angústia e, ajudar a criança a reconstruir essa confiança com: liberdade, regras, rotinas saudáveis, respeito e amor. De outra forma sua contribuição será com a intensificação da ansiedade.
Obrigado meu amigo esclarecido!
Meu Deus, e terrivel ver meu filho nao comer!! Mas valeu a dica!!
ResponderExcluirAnita
Muito legal,princiipalmente em relaçào ao aprendizado da real necessidade de comer, o que comer,e como comer.
ResponderExcluirvai ajudar muitos pais a repensar sobre o assunto
gilda