A indignação deixou de ser virtual e se concretizou nas ruas! As
redes sociais saíram do mundo digital e tomaram praças e avenidas, ameaçando
assembleias, prefeituras, sedes dos governos estaduais e congresso. De uma hora
para a outra R$0,20 se transformaram na fagulha que reacendeu estopins sociais
muito antigos e sempre postergados e ignorados pelos governantes: transporte
público caótico, caro, insuficiente, poluidor e de péssima qualidade; um
sistema de saúde pública deficitário e incompetente para atender com dignidade,
humanidade e qualidade a maior parte da população - filas em hospitais falta de
treinamento adequado, falta de profissionais qualificados, falta de
atendimento, falta de infraestrutura, etc; educação pública que desmerece e não
valoriza professores, funcionários e alunos - falta de vagas, prédios e
instalações em péssimas condições, falta de segurança, falta de
treinamento e capacitação para professores e funcionários, salários muito
abaixo daquilo que se considera razoável para uma profissão tão importante
(qualquer assessor parlamentar ganha muito mais do que um professor...);
segurança pública deficitária e incompetente, que não investe adequadamente na
formação, capacitação e carreira do policial que teoricamente se expõe para proteger
a população - carros de polícia com pneus carecas, armas obsoletas, falta de
treinamento e capacitação para o exercício da profissão, salários muito baixos,
etc; um sistema judiciário lento e desigual, que prende e manda soltar de
acordo com a capacidade do réu para pagar os honorários dos seus advogados de
defesa - bons advogados custam muito e sabem como se utilizar de inúmeros
recursos e artimanhas jurídicas para atrasar indefinidamente, ou até mesmo
mudar sentenças (os réus do mensalão ainda estão todos soltos e as cadeias
estão repletas de gente pobre, que em muitos casos cometeu o crime de roubar
para comer... e a qualquer momento você pode ser vítima de assalto e arrastão
dentro de um restaurante, ou pior ainda, dentro de sua própria casa).Os motivos e questões sociais são inúmeros e nem me sinto
capacitado a falar deles com a propriedade e profundidade que gostaria.
Acredito que, além de mim, a maior parte da população desconhece planilhas,
fórmulas e métodos técnicos para a realização dos orçamentos pelas instituições
responsáveis pelos governos. O que a população percebe não necessita de um
grande conhecimento tributário ou de economia: a arrecadação e a destinação dos
recursos é historicamente realizada de maneira desigual, incompetente, autoritária,
muitas vezes corrupta e, que sempre exclui a população com seus desejos e
necessidades (quem não se lembra da CPMF, do IPVA, etc.?).
A falta de recursos já não é mais desculpa para a falta de ações
mais objetivas pelos governantes. A tecnologia permitiu nos últimos anos que os
governos municipal, estadual e federal aumentassem significativamente a
arrecadação de impostos, mas mesmo assim, quando saímos à rua ou vamos a um
hospital, continuamos a ver cada vez mais crianças pedindo esmolas nos faróis,
gente morando embaixo de pontes, filas intermináveis de atendimento em
hospitais, ônibus e trens lotados, etc... Diante de tanto descaso, brota um
forte sentimento de impotência, exclusão e desrespeito!Os governantes estão assustados com a repercussão das
manifestações, por não conseguirem entender ou atender de uma só vez a tantas
demandas. Chamam a isto de "pauta difusa". São muitas questões
trazidas à tona por uma população inteira, de maneira direta, não editada e
formatada por lideranças ou instituições. É um movimento totalmente
"horizontal", que foge ao tradicional modelo "vertical",
normalmente representado através da liderança dos partidos políticos. Pessoas
que tentam utilizar bandeiras de partidos políticos são vaiadas e instigadas a
não utilizarem nenhum símbolo. As pessoas que estão protestando nas ruas não
possuem líderes, por não se sentirem representadas por nenhuma liderança
instituída. Ao contrário, sentem-se usadas e desrespeitadas pelas instituições.
Suas insatisfações e demandas são extravasadas diretamente, sem intermediários.
Quando digo isto, reitero aqui que sou totalmente contra qualquer forma de
violência. Não aprovo e não sou solidário às cenas de violência descabida da
polícia, registradas nos primeiros dias dos protestos, e nem do vandalismo que
infelizmente acompanhou muitos momentos importantes do movimento. Caminhando
juntos nas ruas, existem grupos pró-aborto, ao lado de grupos anti-aborto.
Grupos de policiais, de professores, de bombeiros, de estudantes, de
trabalhadores, aposentados, pais com crianças de colo, idosos, etc. A velha
sociologia política é insuficiente para explicar e formatar estes
acontecimentos. Trata-se de um novo fenômeno social, que ainda precisa ser
compreendido e estudado, mas que certamente influenciará e trará consequências
para a forma do estado se relacionar com a população. Muitos políticos ainda
não perceberam isso - ontem assisti nos telejornais as declarações de prefeitos
que continuam a fazer um discurso "vertical" e de exclusão: "Vou revogar tal lei..."
"Vou decretar tal coisa..." Enquanto isso a população
continuava nas ruas, não dando bola e não escutando. A população só irá
compreender quando fizer parte da solução.O sentimento de exclusão foi vencido pela capacidade de
organização e demonstração de ações concretas das redes sociais. Não é mais
possível os governantes tomarem decisões sem ao menos se preocuparem com a
repercussão de suas atitudes. Já o sentimento de impotência, este foi agora
transferido para os governantes. Somente a ajuda da população poderá devolver a
estabilidade e a capacidade do governo agir com verdadeiro espírito democrático
e credibilidade.
Vc resumiu de um jeito muito legal! Infelizmente As cenas de violência fazem as pessoas ficarem divididas e sem o verdadeiro foco do que esta acontecendo.
ResponderExcluirChega de abusos e e de descaso!!
Chega de partido político com suas garras manipuladoras! O presidente do PT está pedindo para os militantes irem para as ruas junto com o movimento! Eles querem fazer parte de algo que é contra eles e sua forma de governar e agir! Ou é muito cara de pau ou é muito ignorante!
ResponderExcluirFelicidades Brasil! :)
ResponderExcluirProtestar e legitimo e indiscutivelmente um direito! Mas gostaria de saber se as pessoas que hoje estão fazendo os protestos, em seu dia a dia praticam aquilo que estão reivindicando: não ser corrupto, não gastar seu dinheiro com futilidades, votar com consciência e respeitar o direito dos outros.
ResponderExcluirFazer parte de algo nos torna responsáveis!! Tomara que o povo que esta nas ruas tenha esta dimensão...
ResponderExcluirAdorei o comentário acima! Acho que a maior parte das pessoas não tem consciência alguma da dimensão destes protestos. Tem gente pedindo a eleição do presidente do supremo tribunal (Joaquim Barbosa) para a presidência da República. Esta é a face conservadora dos protestos, que fez com que o pessoal do tarifa zero abandonasse o movimento. Querem um "Deus" já, que resolva todos os problemas ao invés de fazerem a sua própria lição de casa e assumirem a sua responsabilidade individual. Quem vai mudar as instituições, são as pessoas! Não será (e nem deve ser) um sujeito único que terá este poder! Joaquim Barbosa é um ótimo membro do supremo tribunal federal, pq fez e aparentemente faz a sua lição de casa.
ResponderExcluir