sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O sentimento de culpa

No senso comum o sentimento de culpa é normalmente atribuído e relacionado ao ensinamento religioso e moral. Nessa perspectiva não fazer o mal para o "outro", passa por garantir perante os olhos do "criador" o exemplo de um bom comportamento e, talvez a garantia da "conquista de algum bônus" para o "dia do julgamento final". Sem dúvida nenhuma essa forma de pensar e sentir produz resultados sociais, que a sua maneira garantem o convívio social e um certo respeito aos limites e fronteiras entre o indivíduo e seus "semelhantes". Aqueles que sustentam esse ponto de vista acreditam que a moralidade precisa ser inculcada desde muito cedo e ensinam as crianças pequenas de acordo com essa idéia.

Para a psicanálise as fundações do sentimento de culpa estão fixadas no crescimento emocional do indivíduo e na sua capacidade em conviver socialmente, dentro de uma certa harmonia entre o "eu" e o "tu". As influências culturais são sem dúvida muito importantes e variam de lugar para lugar. Podemos verificar essa informação através das diversas variações de comportamentos, existentes entre povos e famílias de culturas diferentes.
Diferentemente da visão moralista e religiosa, podemos dizer que através de uma perspectiva "evolucionista" a capacidade de se sentir culpado é uma conquista pessoal e uma das garantias que a espécie humana necessita para sobreviver e perdurar. Se não houver respeito mútuo, a espécie humana poderá correr um sério risco de sobrevivência. E como em todo processo de amadurecimento, a moralidade também precisa se desenvolver naturalmente e de modo pessoal. Cabe ao ambiente facilitar e proporcionar os meios necessários para que isso ocorra.

E por que razão é importante distinguir entre a moralidade imposta e a moralidade naturalmente desenvolvida? Freud mencionou que a verdadeira culpa se situa na intenção inconsciente. O crime verdadeiro não é a causa do sentimento de culpa; é antes o resultado dessa culpa, que pertence à intenção criminosa (interna). Somente a culpa "legal" (externa) se relaciona com o crime; a culpa moral se relaciona com a realidade interna. Em outras palavras isso significa que há um paradoxo entre dois tipos de culpa: 1) Uma culpa externa e legal que se relaciona com o "crime" e; 2) Uma culpa moral e interna que se relaciona com uma intenção "criminosa" pré-existente. Pois bem, se levarmos em conta as diferenças existentes entre a moralidade inculcada pelo ambiente e, a moralidade que se desenvolveu naturalmente com a ajuda do ambiente, acredito que esse paradoxo seria bem menor e os resultados seriam percebidos no tipo de sociedade que indivíduos espontâneos e criativos poderiam conviver. A moralidade inculcada possui um compromisso com a aparência externa, enquanto a moralidade desenvolvida possui um compromisso com as verdadeiras intenções inconscientes.
Como um exercício de ficção, imaginem um mundo cheio de desigualdades onde ninguém respeitasse ninguém e aqueles que possuíssem poder econômico levariam grandes vantagens sobre os que não tivessem o mesmo poder: Ricos que cometeriam crimes e não seriam punidos; pessoas que comprariam orgãos para "furar" filas de transplantes e tirar vantagens; escolas boas existiriam somente para quem pudesse pagar; nações inteiras passariam fome por pura falta de interesse, responsabilidade e investimentos em infra-estrutura; uso indevido do dinheiro público e coletivo; etc. Ainda bem que essas coisas não existem e este é apenas um exercício de ficção...

4 comentários:

  1. Você é Bár-Ba-Ro!
    PARABÉNS, Meu Querido!
    SUCESSO SEMPRE
    Beijo e Luz
    Que o blog sempre cresça mais e mais!
    Tato Fischer

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  2. Gostei muito do enfoque abordado sobre um dos aspectos deste sentimento tão presente em nossa sociedade. Também seria interessante uma continuação explorando os atos que fazemos, sem nos darmos conta, que são movidos quase que exclusivamente pelo sentimento de culpa. Por ex., os pais que trabalham muito tempo fora(tendo a possibilidade de escolha de ficar mais em casa) e tentam abrandar a culpa dando presentes aos filhos. Se bem entendi seu texto, neste caso a culpa viria de uma moralidade inculcada pelo ambiente, visto que a pessoa (no caso, os pais) consegue se convencer (preciso ganhar muito dinheiro) a agir da forma que mais lhe convenha (ficar fora de casa). Mas a sociedade também a cobra de ser mais presente em casa e daí vem a culpa (compromissada com a aparência externa). Intindi???
    Bjs sem culpa,
    Dri

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  3. E como fazer para não precisa inculcar a moral, mas fazê-la presente no ambiente sem formalizar isso em palavras?

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  4. A culpa es un grande instrumento de controle. Controle que puede ser do mondo sobre el hombre (externo), ou del hombre sobre si mismo (interno). És uma escolha que devamos fazer.
    Perdona a péssima traducione..
    Diego

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