sexta-feira, 29 de março de 2024

"Eu caçador de mim"

 

ATENÇÃO

EU CAÇADOR DE MIM FOI CANCELADO! INFELIZMENTE A DENGUE RESOLVEU ADIAR NOSSO GRUPO!! EM BREVE RETORNAREI COM AS NOVAS DATAS DE REALIZAÇÃO! PEÇO DESCULPAS PELO TRANSTORNO E AGRADEÇO A COMPREENSÃO!



VENHA PARTICIPAR DESSA JORNADA DE 

DESENVOLVIMENTO PESSOAL!


Esse trabalho visa criar um espaço e ambiente que facilite para as pessoas terem contato e possam aprender a se observar, encorajando-as a mergulharem em si mesmas, a fim de identificar minimamente seus desejos, limites e possibilidades. Se conhecer é uma tarefa da vida toda, e aqui se espera-se ser um ponto de partida ou um "posto de reabastecimento" para aqueles que já tiveram contato com essa jornada. Quase tudo o que precisamos já está dentro nós! Se conhecer traz a segurança de ser quem se é, tornando mais leve o caminho para quem busca: autorrealização, relacionamentos saudáveis, autoconfiança, crescimento e desenvolvimento pessoal. Viver hoje em dia nos expõe a um mundo repleto de informações, de muitas distrações, de pressões sociais por sucesso, produtividade e prazeres imediatos. Empreendemos muita energia em coisas que muitas vezes não precisamos e na verdade não queremos.

Por que se trabalhar em grupo? Como isso funciona?

"Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo" 
 (provérbio africano)
 

Participar de um grupo com essa importante tarefa, talvez seja a maneira mais segura e afetuosa de se realizar essa jornada:
  • Um grupo compartilha experiências e gera senso de pertencimento - verificamos que não estamos sozinhos em nossas lutas e isso é muito confortante. 
  • A diversidade dos grupos nos ajuda a perceber e por em cheque crenças e valores que já cristalizamos e diminuem a amplitude de nossa visão sobre as coisas. A diversidade permite que possamos ver as coisas por outros e novos pontos de vista, ajudando a ampliar nossa visão.
  • Os outros participantes nos servem de espelho através do reconhecimento de si, em pedaços das histórias e vivência dos outros.
  • Em grupo não estamos sozinhos para enfrentar o medo do desconhecido. O processo de autoconhecimento e mergulho interno envolve adentrar em áreas desconhecidas e enfrentar aspectos desconfortáveis de si mesmo. É comum se ter medo de confrontar  sombras, traumas e padrões negativos. O grupo nos dá essa coragem e segurança!

Em sua dinâmica de funcionamento, o grupo não se comunica somente através da fala e do discurso. Se comunica também através de ferramentas lúdicas poderosas, que tornam a comunicação mais profunda, eficaz, leve e acolhedora: o psicodrama utiliza técnicas de teatro para explorar emoções, experiências e relacionamentos pessoais - jogos de papeis e de dramatizações de experiências pessoais, permitem uma forte reflexão sobre as próprias emoções pensamentos e comportamentos; mitologia, contação de histórias e dinâmicas são processos lúdicos leves, divertidos e eficazes, que ajudam na percepção e mudança de comportamentos negativos, crenças limitantes, no desenvolvimento pessoal, na solução de problemas interpessoais, entre outros benefícios. Quando nos sentimos seguros e acolhidos, compartilhamos, aprendemos, ensinamos e transformamos nossa vida e também o nosso entorno! O grupo nos ajuda a trabalhar questões muito pessoais enquanto desenvolvemos habilidades sociais, emocionais e de comunicação.

Onde e quando será realizado esse trabalho?

Serão realizados três encontros (dias 16, 23 e 30/04/2024), das 19:00 às 22:00 (nove horas no total), na Rua Itatinga, 371 - Perdizes.

Quanto custa participar do grupo?

R$700,00 compreende os três encontros e pode ser parcelado em duas vezes.

Como faço para ter mais informações?

Você pode fazer perguntas através dos comentários abaixo ou entrar em contato com o WhatsApp (11) 98276-4343 


quinta-feira, 3 de março de 2022

Conhece-te a ti mesmo - compreender e intuir


Oráculo de Delfos

“Conhece-te a Ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum.” (Frase supostamente atribuída à Sócrates, Heráclito ou Pitágoras).

Faz muito tempo que pensadores, filósofos e pessoas preocupadas em compreender a existência, perceberam a importância fundamental do ser humano em se conhecer mais profundamente. Talvez, o principal registro histórico que temos sobre a importância do autoconhecimento para a convivência do sujeito consigo mesmo e com as outras pessoas, seja a enigmática frase esculpida na porta de entrada do oráculo de Delfos: "Conheça-te a ti mesmo", frase que está diretamente relacionada à Sócrates, o pensador que marcou a filosofia e o pensamento ocidental. Marcou de tal forma, que quando nos referimos a filosofia, mencionamos o período pré-socrático, ou pós-socrático. Suas ideias foram consideradas por inúmeros filósofos que o sucederam, e são levadas em conta até hoje. Durante um bom tempo, achava-se inclusive que Sócrates não havia existido, que era apenas um personagem. Provavelmente por não ter escrito nenhum livro ou texto que pudesse comprovar. Acredita-se que preferia a cultura oral por considerá-la mais humana e efetiva. Mas sabe-se de sua existência pelos registros feitos por seus adversários e também por seu discípulo Platão, através de seus livros em forma de diálogos, especialmente dois deles: Líses (que trata sobre a amizade) e Fédon (trata sobre a morte de Sócrates). Seus antecessores escreviam em verso e prosa e Sócrates "conversava" fazendo perguntas diretas e embaraçosas sobre qualquer tema. Platão influenciado por seu mestre, quando escreve, escreve na forma de diálogos, ou conversas, com perguntas e respostas. A psicologia também se vale muito do método socrático. A TCC (Terapia Comportamental Cognitiva) por exemplo, se utiliza de uma técnica chamada "questionamento socrático", que tem por objetivo ajudar o indivíduo a elucidar e buscar o sentido dos comportamentos disfuncionais que apresenta e o fazem sofrer. De um certo modo a psicanálise também o faz ao analisar sentimentos e pensamentos, ajudando o paciente a encontrar respostas que na verdade, já possui. Bem aplicada, essa técnica realmente colabora muito. 

O pensamento intuitivo 

Mas, somente racionalizar é comprovadamente insuficiente para compreender o mundo e a vida. Apesar de Sócrates e sua enorme contribuição para o pensamento ocidental, a razão por si só é insuficiente para de forma equilibrada, ampla, centrada e produtiva, compreendermos e atuarmos na vida, que as vezes é maravilhosa, as vezes é triste, tediosa e muito difícil. A psicologia percebeu e tem estudado que além da percepção consciente da realidade, aquela em que percebemos o mundo através dos sentidos e racionalizamos para compreendê-lo, também percebemos o mundo de uma forma inconsciente e intuitiva. O pensamento intuitivo é aquele que nos posiciona nas "entrelinhas", daquilo que não é visível e concreto.

A percepção inconsciente da realidade ocorre de forma natural e mecânica com todas as pessoas, diante de todas as situações da vida. Só precisamos notar, prestar atenção e lhe dar a devida importância para aquelas que tenham um sentido em um significado que seja relevante. O pensamento intuitivo faz com que a compreensão da realidade do momento ocorra instantaneamente, sem o auxílio da lógica e da razão. Não é verbal, é simbólico e se baseia em sinais e sensações que escapam a racionalização. Por ser uma manifestação do inconsciente, não pode ser explicado de forma lógica e intelectual pela consciência. Ou seja, quase sempre nem nos damos conta. É a informação invisível que sempre está nas entrelinhas de quase tudo o que acontece.  

Está muito presente na vida cotidiana e apesar de invisível, podemos evitar muitos problemas se o levarmos em conta e o obedecermos. Alguns exemplos muito comuns: médicos com aquele olho clínico privilegiado, que descobrem diagnósticos muito difíceis que nenhum exame descobriu; empreendedores que tomaram decisões consideradas absurdas, mas que depois se mostraram como o melhor caminho a seguir; artistas que constroem músicas, poesias ou imagens que nos hipnotizam de tanta beleza e capacidade de síntese etc. 

São muitos os exemplos e estudiosos identificaram e classificaram quatro tipos de pensamento intuitivoo emocional que é a capacidade de detectar traços da personalidade das pessoas ou o estado emocional em que se encontram (muito útil e comum em profissionais da saúde mental); o mental que encontra respostas instantâneas para um problema que é muito urgente, sem analisá-lo racionalmente; o psíquico que percebe  o bom e o ruim dos ambientes sociais e de trabalho, e tem a capacidade de equacionar e superar dificuldades pessoais, sem o looping desgastante de racionalizações a respeito; o espiritual que alcança estados de iluminação e revelações - está associado mais às experiências do que a fatos. 

A intuição faz parte da natureza humana e ocorre naturalmente com qualquer pessoa. Apesar de haver opiniões divergentes na ciência, minha experiência me leva a crer que não se trata de uma habilidade que precisa ser adquirida e aprendida, embora precise ser treinada. O mais importante é que está dentro de cada pessoa, não fora. E essa é a atenção que procuro chamar aqui, que é a nossa capacidade que pode ser desenvolvida para perceber, levar a sério e confiar no pensamento intuitivo. E por que motivo não o fazemos? Penso que isso ocorra porque não fomos ensinados e estimulados para isso. Então passamos a ter medo de começar a achar que estamos ficando pirados, prestando atenção em sensações e impressões que muitas vezes são estranhas e muito diferentes. E por vivermos em um mundo que privilegia e estimula os sentidos mais concretos, como forma de compensação de nossas angústias, escolhemos essa forma mais superficial para viver. Em especial as sensações de prazer causadas pelo poder de consumir. Lidamos com nossas angústias, principalmente buscando prazeres externos e consumindo. O falso sentido da vida passa a ser ganhar dinheiro, status e poder para continuar consumindo.

Praticar para facilitar essa percepção do pensamento intuitivo e se ter uma boa saúde mental, é como a necessidade de se fazer exercícios físicos regularmente para se manter uma boa saúde física. Além da falta de prática, existem bloqueios que normalmente impedem o fluxo do pensamento intuitivo. Estão associados aos nossos complexos, traumas e neuroses e acabamos confundindo impressões. Podemos achar que temos uma impressão de que determinada pessoa não seja boa e confiável, mas na verdade, de forma oculta está uma certa inveja que sentimos do sucesso dessa tal pessoa. Esse é um exemplo muito comum que descaracteriza o pensamento intuitivo. Na verdade não houve um pensamento intuitivo. Houve uma manifestação inconsciente de um complexo, que são memórias carregadas de emoção que acabamos projetando indevidamente. Ou seja, um complexo bloqueou a intuição. A prática ajudará a tornar esses bloqueios mais evidentes, ou conscientes. Uma vez conscientes, a razão irá fazer seu trabalho de compreensão racional dessas dificuldades e  poderá contar com a ajuda do próprio inconsciente para organizar e buscar solucionar. 

E como se pratica? O que posso fazer? Como devo fazer? São muitas as formas que podemos "praticar" a escuta do inconsciente: observar e buscar analisar os sonhos, os lapsos, práticas meditativas, fazer yoga, fazer terapia, rezar, ver e fazer arte etc. Todos esses exemplos facilitam o contato consigo mesmo pela capacidade de mudar a frequência do pensamento e aumentar a percepção de si mesmo e do mundo está fora. 

Por que se conhecer é importante?

Se autoconhecer é um pilar fundamental para o desenvolvimento pessoal e civilizatório. Há uma carapaça no mundo e em nós mesmos, uma máscara que todos nós construímos e que faz com que achemos que todas as verdades estão ali, na superfície do que é aparentemente concreto e visível. Olhar por debaixo dessa máscara, é se autoconhecer. É preciso coragem para se olhar e perceber o que há por trás da própria máscara, encarando os anjos e demônios (esses em especial...) que encontrarmos. Se conhecer é a forma mais segura de se manter o equilíbrio psíquico, que é a capacidade de se conviver adequadamente e criativamente com as forças opostas e contraditórias da nossa psique. Em síntese, ter saúde mental.

A psique em equilíbrio gera a capacidade de se controlar impulsos e instintos e, de promover criatividade, espontaneidade para se viver uma vida mais satisfatória e com mais sentido. Percebendo como nossos demônios atuam, verificamos como somos impulsionados para atitudes e comportamentos que sempre são repetitivos. Exemplos: pessoas que sempre reclamam por se apaixonar por um determinado tipo de homem ou de mulher; pessoas com ansiedade excessiva que sempre acabam excluídas dos grupos sociais que frequentam por serem muito invasivas pelo excesso de medo; pessoas que não conseguem manter relacionamentos mais profundos porque sempre se apaixonam por outra pessoa quando o relacionamento em que está começa a se aprofundar; etc. 

Essa ação que é interna e de cada pessoa, certamente irá refletir significativamente no coletivo. Considero que dificilmente uma pessoa equilibrada vai matar outra pessoa no trânsito porque levou uma fechada, ou espancar a mulher porque se sentiu traído, ou violar uma criança porque se sentiu atraído demais. Todos esses exemplos terríveis sempre ocorrem quando há desequilíbrio. Quando há o desequilíbrio, quem se apresenta em nossas ações e comportamentos são os instintos, impulsos, traumas e mecanismos de defesa. Sempre considerei que déspotas da história da humanidade possuíam desequilíbrios psíquicos graves: Hitler, Mussolini, Stalin e muitos outros, apenas para citar alguns mais conhecidos. E não tenho dúvida alguma que esse desequilíbrio esteja na raiz das aberrações que infelizmente estamos assistindo diariamente nestes tempos muito difíceis: violência descabida, guerras absurdas, falta de empatia, preconceitos inaceitáveis, polarização, falta de empenho e desejo para combater a enorme desigualdade social, muitas opiniões e nenhuma vontade de se conhecer realmente o problema etc. 

O desequilíbrio psíquico causa danos em nossa consciência que ainda é muito frágil, e que podem se tornar permanentes. Nestes tempos muito difíceis, esses são sinais claros de que a saúde mental geral não está nada bem. E sem ela, vai ser difícil mudarmos para melhor.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

O inconsciente: o grande mistério da natureza humana


Todo mundo já se pegou ou presenciou as seguintes situações: vou até o quarto buscar algum objeto e, apesar de ter o pensamento claro sobre o que vou fazer, de repente "esqueço" o que ia fazer. Aquilo que era muito claro eu esqueci, desapareceu da minha mente consciente - ou seja, tornou-se inconsciente. E pode voltar para a consciência (eu me lembrar) em alguns momentos, ou jamais voltar. 
Em uma conversa com amigos, de repente falo alguma coisa que jamais diria conscientemente. Peço desculpas e tento consertar e resolver o embaraço que acabei criando sem querer (mas querendo... mesmo sem saber). Certamente o que foi dito de maneira imprópria estava inconsciente e emergiu de repente, sem aviso. Algumas vezes temos atitudes que consideramos como irracionais e que não teríamos normalmente. Nessas situações as pessoas costumam dizer: "não era eu quem estava falando ou fazendo tal coisa... não é possível"... É certo que tais atitudes foram consequência de sentimentos inconscientes, reprimidos ou não, que emergiram e influenciaram de uma maneira boa ou ruim o nosso comportamento. Em resumo, existe uma parte considerável de nossa mente que desconhecemos e não temos acesso ou controle, mas que influencia e determina nosso estado de espírito e comportamentos nos muitos momentos da vida.

O mistério da natureza humana

Desde tempos muito remotos e antigos, o homem percebia e acreditava que existiam influências sobre o pensamento consciente de uma pessoa. Normalmente eram consideradas como tentações ou inspirações divinas ou influências dos deuses. Filósofos e pensadores também se ocuparam em tentar compreender e de alguma forma e sistematizar, o "lado irracional" do ser humano: Platão em algumas passagens de "A República", descreveu como os homens em estado de sono, davam vazões a várias coisas, que se estivessem acordados, jamais fariam. E muitos outros filósofos ocidentais (Schpenhauer, Espinoza, Leibniz, Hegel, Kierkegaard e Nietzsche) já se utilizavam da expressão inconsciente desde a publicação em 1800 da obra: "Sistema de idealismo transcendental" do filósofo idealista alemão Friedrich Schelling. Muitos acreditam que foi Schelling quem cunhou a expressão inconsciente
A curiosidade sobre o grande mistério da natureza humana inconsciente, também foi tema da literatura.  Talvez a obra que Robert L Stevenson publicou nos anos 1880 "O estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde (O médico e o monstro)" seja um ótimo exemplo: Dr. Jekyll se ocupava em realizar experiências em que acreditava ser possível controlar quimicamente os lados bom e ruim da personalidade humana. Testando em si mesmo o "soro" que havia inventado, acabou libertando seu lado monstruoso e cruel. 
Assim que surgiu, a psicologia adotou o tema como objeto de estudo, e no século XIX os psicólogos experimentais Gustav Fechner e Wilhem Wundt passaram a levar em conta a expressão inconsciente em seus estudos sobre a maneira como a mente consciente organiza os "múltiplos e confusos dados dos sentidos".  Esses estudos até hoje são uma forte base de pesquisa dos psicólogos cognitivistas. 

Freud e a psicanálise

Freud deu um novo e incrível registro sobre a mente inconsciente, criando a psicanálise e permitindo que esses conceitos pudessem ir adiante com seus muitos seguidores e autores. Acredito que se preocupou mais com a etiologia dos distúrbios e sintomas causados por conteúdos inconscientes recalcados, e a forma como afetam o estado de espírito, comportamentos e a vida das pessoas. Para a psicanálise freudiana o inconsciente é o espaço onde se concentram conteúdos recalcados, de natureza pessoal e com origens nos desejos infantis. É desse ponto que surge um dos pilares da teoria psicanalítica com o complexo de Édipo. Durante a infância, a influência moral do ambiente gera a repressão de desejos que podem durar por toda a vida. A repressão ocorre de forma intencional e ao mesmo tempo inconsciente: assim esquecemos conteúdos que causam angústia e sofrimento, como forma de defesa e de sobrevivência psíquica. E esses conteúdos não desaparecem, estão apenas esquecidos, mas continuam latentes, em ação, interferindo no comportamento e no estado de espírito da pessoa. 
Em síntese, a análise tem como objetivo facilitar para que esses conteúdos reprimidos possam migrar gradativamente para a consciência, e que de alguma forma possam ser ressignificados e assim, não produzirem mais sintomas e aliviarem o sofrimento psíquico. 

         
Jung: o inconsciente é simbólico e dividido em pessoal e coletivo

Para Jung o conteúdo inconsciente
é composto principalmente de imagens
simbólicas
e também é dividido em duas partes: uma parte de natureza pessoal que contém todas as experiências do indivíduo, e outra parte de natureza coletiva, que trata de tudo que a humanidade teve como experiência psíquica e subjetiva e que recebemos como herança ao nascermos. 

imagens simbólicas: Transcrevo aqui a própria definição de Jung em "O Homem e seus Símbolos", que considero irretocável - "... símbolos podem ser um termo, um nome ou uma imagem que pode ser familiar e conhecida, mas que possui conotações especiais que vão além do seu significado evidente e convencional. Esse algo especial a mais, normalmente é vago, desconhecido ou oculto para nós". Ou seja, o que Jung está nos dizendo é que tudo aquilo que foge da compreensão racional humana, é representado por símbolos. Um bom exemplo é o símbolo do infinito, ou a imagem do Espírito Santo, ou a imagem de um ser divino. Representam conceitos que sabemos o que são, mas nunca totalmente. E essa deve ser uma das fortes razões por que as religiões se utilizam de uma linguagem simbólica. Ou mesmo a psicanálise que recorreu a mitologia para explicar conceitos muito abstratos e de difícil compreensão. Este é um processo natural de funcionamento da mente humana e que também ocorre de maneira espontânea e inconsciente enquanto dormimos: produzimos símbolos na forma de sonhos. 

inconsciente pessoal: Diferentemente de Freud, Jung considerava que além dos conteúdos reprimidos (os complexos), o inconsciente também possui conteúdos subliminais. São conteúdos sem nenhuma carga afetiva envolvida. Estão inconscientes porque não eram fortes o suficiente para a consciência mantê-los. Assim, o que está no inconsciente não necessariamente foi reprimido, mas simplesmente não foi percebido totalmente: podem ser fatos e informações que passaram pelos sentidos de alguma maneira e a consciência não percebeu. Um exemplo: andar diariamente por uma rua e "não perceber" que lá existe um prédio ou uma praça que você nem sabia. Ou seja, nem percebia.
Os complexos são representações de experiências individuais carregadas de afeto, boas ou ruins. Tornam-se ruins ou negativos quando criam proporções maiores do que a consciência consegue lidar. Exemplo: uma pessoa que tenha complexo de inferioridade (e que não sabe porque é um conteúdo inconsciente), sempre sente muita raiva e se torna ou muito agressiva, ou muito ausente ou até mesmo deprimida, toda vez que alguém próximo (ou não...) consegue elogios ou realiza uma conquista com méritos. De alguma maneira, o sucesso alheio reforça o seu complexo. Os complexos acabam utilizando uma quantidade excessiva de energia psíquica e a consciência não consegue dar conta. E é nesses casos que os sintomas e distúrbios ocorrem. Então não existe bula e nem protocolos para essa questão: os complexos são ímpares e totalmente relacionados com a intimidade de cada pessoa. 

inconsciente coletivo: Jung percebe que a mente humana também está em processo de evolução, desde as origens mais primitivas da humanidade. E essa psique infinitamente antiga, é a base mais profunda da mente, que é passada de geração para geração. Assim como biólogos descobriram que a estrutura do nosso corpo se fundamenta no molde anatômico dos mamíferos em geral, por exemplo. 
São conteúdos idênticos em todos os seres humanos - temas e imagens comuns em qualquer civilização ou cultura, que não dependem de nenhum conhecimento prévio adquirido pela pessoa. Chegou a essas conclusões através da sua experiência clínica e também através de estudos de literatura, religião e cultura comparada. Em sua experiência com pacientes psicóticos, percebeu que haviam delírios que traziam temas e imagens de mitos antigos, que essas pessoas jamais tiveram algum tipo de contato. Temas e imagens que se repetem nas diferentes mitologias, religiões, contos de fadas e manifestações artísticas. Naturalmente, diferentes povos e diferentes culturas repetem essas imagens. E para essas imagens, deu o nome de arquétipos, que significa: modelo, padrão. O inconsciente coletivo então, é povoado por arquétipos e instintos.

O que o levou a fundar sua teoria foi a observação muito acurada sobre o simbolismo dos sonhos dos milhares de pacientes que analisou. Em conjunto com essa observação, a clara constatação de que muito dos problemas e sintomas eram esclarecidos ou atenuados quando essas mensagens inconscientes e simbólicas enviadas através dos sonhos, eram percebidas e analisadas. Daí a grande importância dada ao conteúdo inconscientee também seu papel fundamental no equilíbrio psíquico. Mais do que um "depósito de recalques", para Jung o inconsciente passou a ser visto como uma peça fundamental para o equilíbrio psíquico: inconsciente consciência funcionam de forma complementar, onde um depende do outro, e essa dinâmica funcionando de forma adequada, acaba por fortalecer a consciência.

domingo, 16 de janeiro de 2022

Temos consciência?





O que é a consciência?

Antes de mais nada, acho legal entendermos o que é consciência: dicionário Aurélio - 1.Filos. Atributo altamente desenvolvido na espécie humana e que se define por uma oposição básica: é o atributo pelo qual o homem toma em relação ao mundo (e, posteriormente, em relação aos chamados estados interiores, subjetivos) aquela distância em que se cria a possibilidade de níveis mais altos de integração. São muitas as visões que a psicologia traz, mas aqui pretendo discorrer sobre a visão junguiana, que é a que mais me identifico. Jung enxergou a consciência como uma pequena parte da psique, ainda em desenvolvimento, ainda muito frágil, mas fundamental para a individualidade do homem (sua identidade) e para o fortalecimento da civilização (tornar possível a vida em sociedade). A ciência estima que a evolução natural da consciência venha ocorrendo de forma vagarosa e também conflitante. Seu estado civilizado tem origens nos tempos da invenção da escrita (4000 AC) e pelo que podemos perceber, ainda há muito o que evoluir. Grandes áreas da mente humana ainda permanecem muito primitivas. Basta entrarmos na internet e verificarmos as notícias que logo concordaremos com essa afirmação.
Pois bem, considerando que a consciência é uma pequena parte da mente humana, é prudente desfazer uma confusão que normalmente ocorre no senso comum: a consciência não pode ser confundida com a psique! A psique diferentemente da consciência, é a totalidade da mente humana. Trabalha todos os aspectos da personalidade: pensamentos, sentimentos e comportamentos, tanto conscientes como inconscientes, é essencialmente simbólica e sua função é regular e estabilizar o sujeito internamente. A psique em toda a sua abrangência, é ainda um grande mistério que precisa de muitos estudos e de muita pesquisa. 

Qual é a importância e o papel da consciência?

A grande importância da consciência é a sua capacidade em isolar de forma saudável a maior parte da nossa mente, aquela parte misteriosa que ainda desconhecemos, e que é totalmente simbólica e caótica. Isso permite que possamos nos concentrar em uma coisa de cada vez: aprender, organizar, refazer, criar, produzir e viver em conjunto. Esta é uma conquista indiscutível e fundamental dos indivíduos e do mundo civilizado. Sem isso não haveria civilização e talvez ainda estivéssemos vivendo em pequenas hordas!
E o que seria esse isolamento saudável? É a capacidade da consciência através de uma série de processos mentais e emocionais, de organizar, selecionar e lidar com percepções, recordações, pensamentos, sentimentos, intuições, coisas boas ou ruins, tanto do mundo externo (sensorial e consciente) como do interno (emoções e inconsciente). O resultado desse processo saudável, cria os elementos  que fortalecem a identidade e a continuidade da pessoa.  E o que isso significa? Significa que assim podemos sentir hoje que somos a mesma pessoa que ontem.
O funcionamento desse processo, é para que as experiências que temos se tornem conscientes, combinando informações sensoriais e objetivas do mundo externo, com os conteúdos cifrados e simbólicos do inconsciente. E quanto mais a consciência vai recebendo informações novas (internas e externas), organizando e reorganizando, mais ela se amplia e se fortalece. Isso seria em outras palavras a tal expansão da consciência. E a consciência mais expandida, consequentemente aumenta a força da identidade e consequentemente, o fortalecimento da civilização. 

A fragilidade da consciência

A consciência inspira muitos cuidados! Ela ainda é uma aquisição muito recente da espécie humana, muito frágil e está sujeita a perigos e ameaças que podem facilmente lhe causar transtornos. O principal deles é a sua fragmentação: quando não sei mais quem sou e perco a identidade, quando tudo perde o sentido e o significado e como defesa desenvolvemos processos neuróticos. Emoções incontidas e não trabalhadas (que pertencem ao inconsciente), normalmente tem esse poder de prejudicar a consciência. As experiências e a forma como percebemos e sentimos a vida, quando são ruins ou quando consideramos como uma ameaça (angústias, complexos, traumas etc...), podem nos fazer sofrer em excesso. Como defesa, tiramos da frente para escapar do sofrimento. Fazemos isso recalcando esses acontecimentos no inconsciente pelo simples fato de ainda não caberem na consciência. Em outras palavras, não conseguimos lidar com esse sofrimento conscientemente. Não damos conta de conscientemente, sequer olhar para eles.  Então acabamos “esquecendo” deles e, na verdade nós não esquecemos, apenas tiramos da consciência jogando-os para o inconsciente. Uma vez no inconsciente, esses sentimentos e memórias não desaparecem, continuam lá, latentes,  influenciando nosso estado de espírito, comportamentos e nossa vida em geral. 
Nos casos mais graves, dependendo da predisposição da pessoa e da carga energética e simbólica do conteúdo recalcado e reprimido, essas forças podem atuar para danificar e dissociar a consciência, prejudicando o equilíbrio e a capacidade de se individuar e continuar. As formas como essa tragédia pode ocorrer, também ainda são cheias de mistérios e de incertezas. Há muito o que se estudar e pesquisar. Em outras palavras, é quando uma pessoa perde a sua alma. Em saúde mental quando se fala em perda da alma, corretamente logo se faz a associação direta com aqueles que se tornaram psicóticos e que antigamente (infelizmente), tinham o destino dos manicômios: Os loucos!


A consciência para ampliar e se fortificar, precisa mais do que a lógica e  razão.

Costumamos achar que a consciência precisa única e exclusivamente da razão e dos cinco sentidos para funcionar adequadamente. Embora a razão e uma clara percepção dos sentidos sejam muito importantes, são insuficientes! Jung observou que o ser humano não consegue perceber e compreender por completo, a realidade objetiva a sua volta. Sempre irá precisar intuir outras formas e estratégias para perceber o mundo e a si mesmo. Ou seja, precisa buscar elementos inconscientes e internos para combinar com a percepção sensorial e objetiva externa e, ai sim, ampliar sua consciência, trazendo luz e sentido para aquilo que está experimentando e conhecendo
Há quem questione: mas para perceber o mundo eu preciso apenas dos meus sentidos e da razão para interpretá-lo. E digo que esse é um grande equívoco! E para me explicar aqui, quero repetir uma frase maravilhosa da escritora Anais Nin: "Não vemos as coisas como elas são, nós vemos as coisas como nós somos." O que poética e lindamente Anais Nin sintetizou numa frase, significa que tudo o que é observado racionalmente pela consciência e pelos sentidos (audição, visão, paladar, olfato e tato), é transposto da realidade objetiva para a mente e se transforma em experiências psíquicas. ou realidade subjetiva. 
A realidade objetiva torna-se então, realidade subjetiva. E a subjetividade de uma pessoa é apenas daquela pessoa! Da mesma maneira e ao mesmo tempo, aspectos da experiência que escaparam aos sentidos, também se tornam experiências psíquicas, só que inconscientes. Ficam escondidinhas "embaixo do tapete", sem que tenhamos consciência delas. Só serão percebidas em algum momento de intuição, meditação ou o mais comum, através de sonhos. E surgem sempre como um "segundo pensamento". Não como um pensamento racional e lógico, mas como uma imagem simbólica e aparentemente maluca que não pode ser muito explicada. Não conseguimos explicar com lógica a intuição, a espontaneidade e criatividade. 
Em síntese, saúde mental é Consciência e Inconsciente convivendo num estado profundo e equilibrado de interdependência: o bem-estar de um é impossível sem o bem-estar do outro. E é um equívoco considerar que a consciência limite-se a utilizar apenas a lógica e a razão em seu processo. 

A consciência é o principal instrumento para o autoconhecimento

A maior parte dos nossos conteúdos emocionais são simbólicos, míticos e  inconscientes e sequer temos acesso a eles. Muito pouco sobre como realmente somos está em nossa consciência e sob nosso controle. Ou seja, quase tudo o que fazemos (pensar, sentir, intuir e agir) é totalmente influenciado pelo inconsciente e não passa pela consciência porque costumamos bloquear e evitar. Fazemos isso, na minha opinião, por dois motivos: primeiro por medo desse mundo caótico e  assustador que é o inconsciente. É um mundo onde não temos controle do que nos será revelado. E isso é muito assustador. E lidamos com esse medo considerando como bobagens ilógicas ou crendices e superstições, as mensagens enviadas pelo inconsciente que recebemos o tempo todo. 
Em segundo lugar, fazemos isso porque desde o período do renascimento, privilegiamos o uso da razão para resolver todos os nossos problemas. Não há dúvida de que a razão foi uma grande conquista do homem para resolver suas dificuldades. A ciência e a tecnologia evoluíram consideravelmente, graças ao método e à razão como ferramentas para equacionar problemas e criar soluções. Quase tudo que podemos usufruir com os avanços da tecnologia e da medicina por exemplo, devemos ao poder do método e da razão.  
Mas é preciso admitir que a razão é insuficiente para uma boa compreensão da própria existência e da realidade que se faz parte. Uma pessoa pode ter uma grande capacidade racional de desenvolver métodos e fazer um uso nada edificante disso. Por exemplo: criar armas de destruição em massa, construir fornos para queimar cadáveres de vítimas em larga escala, manipular leis e pessoas em benefício próprio, manipular e desorientar pessoas com fake news em plena pandemia, ou até mesmo preparar armadilhas para atrair e espancar homossexuais. No sentido contrário, há pessoas que simplesmente doam toda sua capacidade, tempo e saúde para indivíduos, organizações ou instituições que usam e abusam enquanto houver o que tirar, até não sobrar nada. Em ambos os casos, claramente não se tem consciência e controle das emoções e das ações.
Não há dúvida nenhuma de que nestes casos temos pessoas com muitos problemas e, aparentemente, com nenhuma disposição para enfrentá-los. Aqui não há expansão da consciência, ao contrário, há um rancor ou uma necessidade para que o mundo fique parado, porque tenho a sensação de que não consigo acompanhar.    
Compreender e ter consciência de quais são meus limites e quais são as minhas habilidades, o que verdadeiramente me faz sentir raiva, desprezo, culpa, medo, alegria, motivação, certezas etc,  certamente evitaria ou no mínimo ajudaria a evitar as situações acima. Situações onde há o risco da perda da identidade e destruição da civilização e da liberdade.
Talvez a perda da alma seja o aspecto da saúde mental que mais encontremos hoje em dia, nos atos de violência descabida e extrema, racismo, intolerância de toda espécie etc.  Reflexão: será que uma pessoa que mate ou abuse de crianças a sangue frio, que espanque sua companheira, ou que detone uma bomba num local cheio de gente,  tem realmente consciência?

C.Jung – “O controle de si mesmo é virtude das mais raras e extraordinárias.”

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

O equilíbrio necessário - intuição x razão


Equilíbrio psicológico significa reagir psicologicamente de forma adequada e moderada diante de estímulos externos e internos, permitindo um certo autocontrole sobre a vida e também sobre os próprios instintos. A saúde da psique depende basicamente do equilíbrio psicológico. Quando o equilíbrio deixa de existir, o homem entra em colapso tornando-se refém dos acontecimentos externos ou internos. Passa a reagir de forma exagerada diante dos fatos tornando-se extremamente sensível e instável. Tudo parece perder o sentido e o significado. Em tempos difíceis como os de hoje em dia, onde o sentimento de angústia pode ser encontrado em qualquer conversa um pouco mais profunda, o equilíbrio psicológico parece estar ameaçado.   
O sentimento de angústia tem dado o tom maior para boa parte das pessoas. Angústia é uma expressão que tem sua origem no latim e significa: caminho estreito, aflição intensa, agonia, limite de espaço e de tempo. Significado perfeito para estes tempos difíceis e motivos para esse estado emocional pesado parecem não faltar. Começa por termos a sensação de não termos mais tempo para nada. O tempo está passando muito rápido e não conseguimos sequer parar por um instante.  Sem contar que a convivência no mundo atual está recheada de extrema violência, com muitos conflitos, mentiras (fake news), desorientação, doenças novas e assustadoras, doenças velhas que estavam praticamente extintas e estão ressurgindo, falta de oportunidades, intolerância e brutalidade. Parece que o valor pela vida e pelo ser humano desceu significativamente a régua, ou se foi para sempre. Atitudes e comportamentos inacreditáveis nos fazem crer que as portas do esgoto subterrâneo da psique humana estão escancaradas. O homem civilizado está sendo colocado à prova e a sensação desesperadora que temos, é que ele está perdendo feio. A saúde da psique que já possui uma fragilidade genuína, diante de cenários macro tão difíceis demonstra estar acusando o golpe. Perda de sentido na vida, explosões de raiva, descontrole, depressão, transtornos de ansiedade e uma importante fragmentação da identidade tem sido sintomas muito comuns. Minha experiência profissional tem confirmado essa impressão, infelizmente.

A psique diante das adversidades tende ao desequilíbrio, mas precisa fundamentalmente dele para não adoecermos gravemente. Um equilíbrio que combine os fatores externos e objetivos, com os fatores internos e subjetivos: consciência inconsciente trabalhando juntos para a produção do "sentido" e da "significação" da vida e de si próprio. De forma natural consciência inconsciente dependem simbioticamente um do outro. Não é possível um estar bem se o outro não estiver. Mas a consciência do homem moderno e sua relação com o inconsciente, parece estar doente e sem conexão, cada vez mais desprovida de "significação"
Se o cenário interno não estiver bom, claro que o cenário externo também não estará. Não podemos esquecer que a forma como enxergamos o mundo e a vida, são projeções de nossa mente: ("Não vemos as coisas como elas são, nós vemos as coisas como nós somos! - Anaís Nin"). Esses argumentos me fazem crer que talvez uma boa maneira de melhorarmos esse mundo difícil e caótico, seria primeiro melhorando nosso mundo interno. E como podemos fazer isso? Talvez seja prestando mais atenção na riqueza do mundo interno, restabelecendo uma boa conexão entre consciência inconsciente e permitindo que a criatividade traga soluções genuínas e transformadoras para a vida.
Permitir-se experimentar conscientemente sentimentos, sentidos e intuições. Quando ressalto "experimentar conscientemente", me refiro ao fato da intuição e dos sentidos pertencerem ao mundo inconsciente, e não fazerem parte da consciência, que naturalmente costuma rejeitar as mensagens sempre cifradas enviadas pelo inconsciente. A consciência do homem moderno por utilizar normalmente a lógica e a razão, tende a ignorar essas mensagens cifradas através de sonhos, impressões e intuições. Combinada com os conteúdos inconscientes, a percepção da realidade objetiva e externa aumenta significativamente porque aumenta-se a quantidade e a qualidade dos sentidos, aumentando e fortalecendo a consciência. A intuição poderá espontânea e criativamente trazer luz para aquilo que se está observando conscientemente e que parece não ter saída. A espontaneidade e a criatividade surgem do mundo inconsciente, trazendo respostas novas para questões antigas. Aumentando a sua percepção da realidade, o homem saberá como se posicionar e se adaptar equilibradamente diante das dificuldades e das facilidades.
Como dizia Gilberto Gil em sua linda canção: "A luz nasce na escuridão".

Mas infelizmente, olhar para dentro de si parece não ter nenhuma validade ou importância para a maior parte das pessoas. Nos acostumamos a apenas "pensar" para organizar intelectualmente aquilo que percebemos sensorialmente (5 sentidos) sobre as experiências da vida. Provavelmente isso esteja relacionado com o medo recorrente que o homem tem do novo e daquilo que provocará mudanças onde aparentemente ele perderá o controle. E uma forma de se proteger desse medo é ignorar tudo o que não pareça ser racional e intelectualmente lógico. A lógica racional nos faz crer erroneamente, que estamos no controle. O conteúdo inconsciente é sempre simbólico, mítico e consequentemente mais assustador. Suas mensagens são sempre cifradas. Sonhar, meditar, dançar, fazer mantras, ouvir música, observar telas de arte, esculturas, ler poemas, contemplar a natureza, são maneiras e atividades que podem facilitar esse contato. A linguagem dos sonhos é um bom exemplo da forma simbólica como o inconsciente se comunica. Observar os próprios sonhos e utilizá-los como forma de meditação, inspiração e motivação para a mudança. A psicologia Jungiana se utiliza da "imaginação ativa" como uma importante forma de transcendência e autoconhecimento. Jung foi o precursor deste método e o utilizou para estimular pacientes psiquiátricos a extravasarem fantasias inconscientes e conscientes e exercitarem a espontaneidade e criatividade através das artes. Este assunto tem me fascinado ultimamente e pretendo discorrer mais sobre ele futuramente. 
Mas neste mundo corrido, ao invés disso a maior parte das pessoas está aprisionada pela tecnologia. O homem moderno dedica mais tempo para a tecnologia do que para si mesmo. Passou a confiar quase que cegamente na tecnologia para resolver todos os problemas do seu dia a dia. Curiosamente, na medida em que o conhecimento tecnológico aumenta sua abrangência e capacidade em propor novas soluções, diminui-se na mesma ou maior proporção o grau de humanização. Estamos isolados diante de uma tela, praticamente impossibilitados de exercitar a empatia. Para se humanizar é preciso entrar em contato profundo com a própria humanidade e compartilhá-la através de nossas ações práticas e objetivas na vida cotidiana.
Volto a escrever mais sobre a riqueza do inconsciente e na importância da sua conexão com a consciência, como forma de preservá-la saudável, maior e menos frágil.