sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) - "A Doença da Aflição"

Em meus atendimentos no ambulatório da Neuro-Sono do Hospital São Paulo, era comum encontrar pessoas que apresentavam sintomas de um forte desconforto nas pernas. Quando contavam suas histórias, diziam que inicialmente associavam esses sintomas a problemas vasculares ou ortopédicos. Diziam que após realizarem várias consultas com médico especialista vascular e a realizarem vários exames, não chegavam a nenhum diagnóstico conclusivo. Para essas pessoas que procuravam por uma explicação sobre o que estavam sentindo e o que as fazia sofrer, não ter um diagnóstico era o pior dos mundos. Isso porque mesmo "sem um diagnóstico", continuavam apresentando sintomas de desconforto e sentiam-se incompreendidas. As famílias e outras pessoas que às cercavam, passavam a questioná-las; afinal de contas vários exames e várias consultas já haviam sido realizadas e nada era encontrado - "Só pode ser da sua cabeça..." O sentimento de incompreensão aumentava causando depressão e angústia.
Recentemente descobri que pessoas próximas e  amigas também sentiam-se da mesma forma e que apresentavam sintomas muito parecidos. E da mesma maneira sentiam-se incompreendidas por não sentirem a continência, tanto de médicos, como da maioria das pessoas mais próximas. Em todos esses casos, quando essas pessoas ouviram sobre a doença que tinham (SPI) e puderam buscar o tratamento adequado, os resultados foram de alívio e de transformação da vida, para melhor. Por essa razão resolvi escrever e fornecer informações básicas sobre a SPI, uma desordem neurológica que acomete 5% da população geral, e até 10% da população com mais de 65 anos.

A SPI é uma desordem neurológica geralmente associada com sensações estranhas e perturbadoras: de formigamento, ou de picada, ou de queimaduras nos membros inferiores. Há um alívio quando a pessoa se movimenta, em especial quando movimenta as pernas. Os sintomas se tornam mais evidentes durante os momentos de repouso e são muito presentes durante a noite. A forte necessidade de movimentar-se para obter o alívio dos sintomas, impede que a pessoa consiga dormir e repousar. Por essa razão a SPI é considerada uma desordem relacionada ao sono. As vezes sou perguntado se pessoas que tem o tique nervoso de balançar rapidamente as pernas, são portadoras de SPI. Esclarecendo: pessoas muito ansiosas que balançam as pernas por tique vervoso,  não são portadoras de SPI. O portador de SPI tem necessidade de movimentar-se com o único objetivo de aliviar os desagradáveis sintomas e desconforto, que sentem nas pernas.
Relatos de pacientes descrevem variadas sensações perturbadoras:  "insetos rastejadores dentro das pernas; gastura; tensão incômoda e desagradável; comichão interno; sensações dolorosas." Embora seja mais comum se ouvir queixas relacionadas aos membros inferiores, também existem casos dos mesmos sintomas e sensações, nos braços. Quando isso ocorre, pode ser um indício de que a doença já esteja em um estágio mais severo. Em casos mais graves, pacientes relatam não conseguir fazer grandes viagens de carro, ônibus ou avião, em que deverão permanecer por muito tempo sentadas. Uma constatação curiosa é que nessas situações, percebeu-se que os sintomas reduzem significativamente seus efeitos, quando a pessoa mantém seu estado de alerta e atenção, nos momentos em que precisa ficar parada. Como estratégia para manter-se em alerta, entretem-se com  atividades como jogos de computador ou até mesmo "conversando consigo mesma". Ao mesmo tempo essa é uma constatação de que os sintomas estão diretamente associados com a diminuição de atividades do sistema nervoso central, como descansar e dormir, por exemplo. É como se a pessoa estivesse "proibida de repousar". Por essa razão a SPI também é conhecida como "a doença da aflição".

Em mulheres a SPI costuma surgir pela primeira vez, durante a gravidez. Há uma forte relação com histórico familiar e nesses casos é comum seu surgimento antes dos 30 anos. A intensidade da doença e a severidade dos sintomas, costuma aumentar com o avanço da idade. Sua etiologia está associada com a herança genética e também com anemia férrica, ou deficiência de ácido fólico (deficiência de ferro no sistema nervoso central). Seu diagnóstico é clínico e pode ser realizado por um médico especializado no sono. O tratamento pode ser ou não ser farmacológico, de acordo com a avaliação realizada pelo médico especialista. Não é incomum se verificar desequilíbrios emocionais como depressão e ansiedade em portadores de SPI. O dia-a-dia com sintomas produz efeitos complicados na vida afetiva e social: queixas dos companheiros de cama, esquiva de programas sociais em que é comum se ficar sentado ou parado, como ir ao cinema ou teatro, etc.
Há um excelente programa de acompanhamento psicológico realizado pelo ambulatório da Neuro-Sono da UNIFESP. Toda semana são atendidos e avaliados vários grupos de pacientes, com resultados muito satisfatórios. Para quem desejar ou necessitar, recomendo que se procure informações mais detalhadas sobre diagnóstico e tratamento através do site da ABRASPI (Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas) http://www.sindromedaspernasinquietas.com.br/, ou enviando e-mail diretamente para: sindromedaspernasinquietas@gmail.com

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O Corpo-do-Outro

Buscando fazer um fechamento com os outros textos onde tratei sobre a Matriz de Identidade, considero importante fazermos uma síntese de tudo o que foi dito. A Matriz de Identidade de Moreno descrita por Naffah Neto, mostrou que na primeira fase do desenvolvimento infantil surge o "corpo-disperso", onde a criança não se diferencia do mundo que a cerca. Após a identificação da criança com certas partes corporais suas, acentuada pelas necessidades fisiológicas, surge o "corpo-parcial", ainda sem unidade no tempo e no espaço. Lentamente, na medida em que ocorre a maturação do sitema nervoso e, através do "reconhecimento" (aceitação) recebido pelo mundo que a cerca, a criança desenvolve o "corpo-parcial". Quando passa a reconhecer-se através do espelho, surge o "corpo-unitário" em que a criança finalmente atinge a "identidade do eu". Uma identidade que ainda está incompleta pela ausência da identidade social, que são os papéis e posições que ainda não possui no seio da família. Sem essa incumbência social e vivendo a margem dessa ordem e dessa cultura, põe-se como "pessoa privada", acreditamdo-se como o centro do universo (fase do egocentrismo acentuado). Essa fase irá terminar lentamente, na medida em que os limites impostos pela educação dos pais e pela realidade da vida, demonstrarem que o seu poder é limitado. A criança entende esses limites como sendo uma ameaça verdadeira ao seu poder. Buscando reconquistar o poder perdido, responde à essas ameaças e limitações que lhe são impostas, imitando e identificando-se com os adultos. Nesse jogo lúdico onde "inverte papéis com seus pais", coloca-se no lugar dos adultos e desenvolve a capacidade de catalisar o imaginário e transformá-lo em ação, unindo fantasia e realidade numa ação espontânea de conquista simbólica do mundo. Nessa fase (a terceira) transforma seu corpo num "agente de conhecimento", abandonando a marginalidade e o isolamento anterior, restritos a um mundo privado. Essa é a ponte para descobrir-se como "corpo-cultural" ou "corpo-simbólico". Isso quer dizer que a criança descobre-se como pessoa singular, ao mesmo tempo em que descobre "o outro", criando e transformando novos papéis e localizando sua posição real neste mundo.

Quando esse estágio do "corpo-simbólico" não é alcançado e nem atingido, a criança permanecerá existindo como "corpo-parcial" ou "corpo-pessoal", dependendo da fase da Matriz da Identidade onde seu desenvolvimento se perdeu e se cristalizou, transformando-se em "conserva" (Moreno chama de "conserva" toda ação estagnada ou não-refeita e recriada). Podemos citar exemplos onde o "corpo-parcial" aparece claramente nas somatizações do histérico e na vivência de desproteção do fóbico. Já o "corpo-pessoal" demonstra claramente a falta de limites culturais e voluntarismo excessivo, que estão na descrição e definição da personalidade psicótica. Para Moreno, a existência psicótica sequer chegou a se constituir como "corpo-próprio" . Desde muito cedo foi transformado em um receptáculo de um drama familiar, representando um "corpo-negado", "corpo-nadificado", "corpo-alienado", destinado a dramatizar o seu próprio assassinato como ser humano. Isso significa que, por ser excluído naturalmente de sua função social primeira no seio da família, seu corpo é possuído por um drama alheio, que representa o "Outro". Drama alheio que o acompanhará por toda a vida.
Dessa forma o corpo do psicótico representa o "corpo-do-Outro". O psicótico vive o seu drama que oscila entre o imaginário e o real (delírios e alucinações), não somente porque lhe falte contato com a realidade, ou porque perceba menos ou de forma distorcida aquilo que vive. Na definição moreniana, o psicótico rompe com a realidade, por percebê-la demais! Faz isso e aje como um subversivo, para colocar em xeque a ordem cultural instituída, onde seu discurso é marginalizado e o seu corpo amarrado e negado. Sua imaginação é o seu exílio do mundo dos homens, seu discurso é uma denúncia daquilo que o acorrenta. Como "corpo-do-outro" é a expressão mais adequada do drama coletivo.

Para o psicodrama o corpo é descrito como um fundamento existencial, como um grande cenro virtual de ações. O "ser-em-situação" descrito pelo existencialismo de Bergson, ocorre através do uso do corpo que também funciona como uma ponte de ligação entre o passado, o presente e o futuro, entre o real e o imaginário. É através do corpo que expressamos nosso modo de ser, nosso posicionamento neste mundo, nossa forma de amar e de se relacionar. Moreno acrescenta que o corpo é um núcleo constantemente estimulado pelas diversas tramas que a sociedade lhe impõe, ou pelos reflexos imaginários onde busca algum refúgio. Está sempre em situação, sempre visando o mundo, mesmo que aja de forma alienada, mesmo que seus olhos só se abram para o que ele queira ver, ainda que existindo como um mero papel.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Matriz de Identidade de Moreno -O Reconhecimento do Eu e do Tu

A etapa de reconhecimento do eu é descrita por Moreno como a segunda etapa do desenvolvimento infantil. Nesse momento a criança passa a perceber-se como uma pessoa singular, podendo reconhecer-se através da imagem de si mesma, refletida pelo espelho. É um processo lento e gradativo, pois inicialmente a criança não se reconhece diante do espelho. Somente aos poucos é que, através da correspondência entre a vivência interna do corpo e sua aparência externa, por meio de uma simetria que aparece através dos movimentos realizados diante do espelho, o corpo conquista a sua unidade. O primeiro e grande espelho da criança até então, eram os olhos de sua mãe, através de um olhar que não era neutro e que revestiu a corporeidade da criança com o desejo do adulto: exigências e expectativas ao seu papel na família ("...olha como ele é sério... tem o jeito do avô; ...é a cara do tio; ...já mostrou que tem personalidade; etc) . Nesta fase a criança depende totalmente desse "papel" que lhe foi atribuído por aqueles que a cercam. Espera-se e é muito importante, que esse "papel" seja revestido pelo reconhecimento  da criança, por sua mãe principalmente, e também por todos que a cercam. Em outras palavras, isso pode ser chamado de "aceitação": "nos te aceitamos, te valorizamos e te desejamos nessa família e neste mundo". A percepção desse sentimento de "aceitação" pela criança, influenciará sua personalidade e sua capacidade de amadurecimento emocional, pelo resto de sua vida. Percebendo que é amada e desejada, terá a sensação de que pode se arriscar e buscar alternativas para as questões da vida que irão surgir, através de seu próprio esforço, de modo seguro, espontâneo e criativo. Saber esperar, saber ouvir os outros e ao mesmo tempo saber se colocar com suavidade nos contextos que a vida cotidiana exige, depende totalmente do amadurecimento emocional do adulto. Nos estudos que ando desenvolvendo sobre a ansiedade excessiva, que apresenta comorbidades relacionadas a insônia e também ao pânico, tenho percebido que pode haver uma forte relação entre os sintomas apresentados pelos pacientes, com essa base afetiva que permite e dá condições ao amadurecimento emocional. Basta lembrar que pessoas muito ansiosas tem muita dificuldade em ouvir e em esperar.
A partir dessa conquista que envolve os primeiros passos da construção de sua própria identidade, a criança descobre-se como uma pessoa distinta das outras pessoas. O corpo dessa fase passa a ser chamado de "corpo pessoal". Sua identidade ainda não está completa, por ainda não exergar-se com uma identidade social própria, ou seja, ainda não se vê ocupando uma posição e um papel no seio da família, através dela mesma. O desenvolvimento de seu ego ainda depende do papel que lhe foi atribuído através das expectativas de sua mãe e do reconhecimento primeiro. E por ainda viver à margem da ordem e da cultura, o corpo põe-se como "pessoa privada", que tem como principal característica, ver-se como o centro do universo - fase muito conhecida pelo egocentrismo acentuado da criança. Há uma relação entre a capacidade que a criança desenvolve para dominar sua própria imagem diante do espelho e, sua expectativa em dominar todos que a cercam, mantendo-os servos de suas vontades e desejos. Fazendo isso, a criança reduz os papéis sociais de pai e mãe, a papéis de seu mundo pessoal e privado. Essa fase será modificada e terminará aos poucos, através dos limites que a educação irá lhe impor. Esses limites serão os balizadores que produzirão uma resistência construtiva ao egocentrismo acentuado da criança. Limites impostos pelos pais, pelas pessoas que cercam essa criança, preparando-a para lidar no futuro, com os limites impostos pela realidade da vida. A partir de então a criança percebe que seu "poder" é limitado, que as pessoas que a cercam não são suas servas e que a convivência com o mundo vai lhe exigir novas posturas e "novos repertórios" que terão que ser descobertos por ela mesma.

As limitações impostas pelos adultos forçam a criança a identificar-se com eles, utilizando isso como estratégia para reconquistar seu "poder". Ao identificar-se com o adulto e representar ludicamente o seu papel ("... agora eu sou a mamãe e vou calçar seu sapato e usar seu colar; ... agora eu vou trocar a fralda da boneca porque ela fêz cocô; vou fazer a comidinha da boneca; etc), a criança passa a conquistar o que Moreno chamou de "função psicodramática": capacidade de jogo simbólico onde inverte os papéis com os pais e descobre através dessa vivência, a rede dos papéis sociais na qual está inscrita sua identidade. Nesse estágio a criança desenvolve a capacidade de catalisar o imaginário e transformá-lo em ação, unindo fantasia e realidade, através de uma ação espontânea de conquista simbólica do mundo. Sua capacidade de ser criativa transformando fantasias em ações, está em pleno funcionamento. Seu corpo se transformará em um "agente de conhecimento", descobrindo sua posição no mundo cultural, o mundo verdadeiramente humano, deixando o isolamento e a marginalidade do mundo privado e egocêntrico. O corpo passa a ser chamado de "corpo cultural" ou "corpo simbólico", onde o reconhecimento de "si" se cristaliza e, surge o reconhecimento do "outro" ("... quero brincar com minhas amiguinhas; papai chegou; vovó faz comidinha gostosa; etc). Quando passa a reconhecer as outras pessoas e a respeitá-las enquanto seres singulares que não estão única e exclusivamente à "seus serviços", a criança conquista a unidade de "ser-no-mundo", através de um "corpo ativo", que reconhece sua posição real e que, por isso mesmo, é capaz de transformá-la, através do desempenho e da recriação do papel inicial que lhe foi destinado pelas expectativas dos adultos. As brincadeiras lúdicas onde a criança representa papéis que imitam os adultos, transformam a espontaneidade instintiva, antes como uma simples capacidade adaptativa, numa função criativa e renovadora.
"Agora o corpo vive mergulhado no real, posicionando-se segundo seu fluxo de transformação: como corpo simbólico é capaz de apreender o real humano, situar-se frente às contingências do presente e catalisar o imaginário, transformando-o em ato criador" - J.L.Moreno.

Em minha próxima postagem continuo com as fases do desenvolvimento, abordando aspectos da psicopatia.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Identidade e Papéis

Recebi um comentário intrigante e muito interessante em minha última postagem: "o sofrimento reside no fato de sempre sermos atores, mesmo quando de alguma forma, "desvendamos o drama inconsciente." O comentário se estendeu com uma outra indagação, baseada na experiência pessoal de sua autora: "Os momentos de clareza e paz mais profundas se apresentam quando a identidade esta 'ausente' ... ou pelo menos em segundo lugar." Num primeiro momento essas indagações me pareceram muito procedentes e muito atraentes. Concordo totalmente com o fato de termos que representar papéis o tempo todo e que isso é, via de regra, causa de muito sofrimento, sem dúvida nenhuma. Me lembrei de casos de pacientes, familiares e amigos, infelizes por terem que desempenhar papéis e funções, incompatíveis com seus desejos e anseios. Mas havia algo que não batia - como podemos não ter nenhuma identidade? Isso é possível? Percebi que essas questões precisavam ser melhor organizadas, como forma de se buscar respostas: a) O sofrimento reside no fato de estarmos sempre desempenhando papéis, o que de alguma forma nos torna "falsos" ou "não autênticos", causando sofrimento emocional e psíquico?; b) A ausência da "identidade", pode nos tornar mais livres, mais claros e mais profundamente felizes?

Procurando por respostas dentro da teoria psicodramática, li que o homem é um "ser-em-relação" e um "ser-no-mundo", conforme a teoria existencialista de Heidegger. Um "ser-em-relação" com ele próprio e com o mundo, por estar no mundo. Não há como se relacionar sem o suporte da "identidade", que é a forma como o homem é enxergado pelas outras pessoas, independentemente de ser bom ou ruim. E toda identidade é acompanhada por uma infinidade de papéis, que irão dar o suporte e a aparência dessa "identidade".  Mesmo quando meditamos ou buscamos a ajuda de um mestre, temos a identidade do "buscador", da "pessoa que se trabalha", etc. O mesmo ocorre com o mestre. Quando o procuramos, o procuramos por saber quem ele é e como pode nos ajudar. Mas se as coisas são assim naturalmente, por que há o sofrimento? Para o psicodrama, o sofrimento pode estar atrelado ao fato de desempenharmos papéis e identidades que não se afinam com a nossa essência, que via de regra é inconsciente. Muitas vezes sequer percebemos que estamos sofrendo muito, por estarmos representando papéis que não queremos. Papéis e identidades que se constituiram para obtermos a "aprovação" do meio em que estamos inseridos. O papel é a forma de funcionamento que o indivíduo assume no momento específico em que reage a uma situação específica, na qual outras pessoas estejam envolvidas. Provavelmente em uma experiência muito pessoal, que envolva meditação e práticas específicas, haja a possibilidade de haver um afastamento dos papéis que representamos no dia-a-dia. Mas acredito que quando esse afastamento ocorre, imediatamente entra em cena um outro papel e uma outra identidade, mais profundos e mais verdadeiros, compatíveis com aquela situação. Mas continuam sendo papéis e identidades.

As teorias psicodramáticas de forma geral, levam o conceito de "papel" para todas as dimensões da vida, do nascimento a toda a existência, enquanto experiência individual e modo de participação na sociedade. O termo "papel", compreende as unidades de representação teatral e de ação e funções sociais. Para o psicodrama sempre "somos atores" e sempre estamos "representando papeis". No livro "Lições de Psicodrama - Gonçalves, Salles Camila; Wolff, Roberto José; Almeida, Castello Wilson - Editora Agora - 1988", os autores ressaltam que na vida real, em sociedade, os indivíduos tem funções determinadas por circunstâncias sócio-econômicas e por sua inserção em uma determinada classe social. Assim há papéis profissionais: marceneiro, encanador, médico, dentista, etc.; pepéis dterminados pela classe social: patrão, operário, sem-terra, fazendeiro, etc.; pepéis constituídos por aitudes e ações: líder, revolucionário, negociador, repressor, etc.; papéis afetivos: amigo, inimigo, companheiro, etc.; papéis familiares: pai, mãe, filho(a), patriarca, sucesso da família, desastre da família, etc.; papéis institucionais: diretor, deputado, coordenador, reformador, etc.
Na próxima semana retomo a Matriz de Identidade e o desenvolvimento, caso esse assunto de hoje se esgote.