quinta-feira, 15 de julho de 2010

A abordagem psicológica no tratamento da insônia

Dormir está associado a "se retirar" de cena, a não ser mais o "protagonista". Quando se dorme, se está só. De uma certa forma, entregamo-nos ao “vazio”, ao desconhecido. Deixamos de compartilhar com o mundo externo e nos voltamos para dentro, para um mundo interno e individual. É uma “experiência de solidão” que somos obrigados a exercitar e praticar desde a mais tenra idade. Desde o berço tivemos que enfrentar a ausência insubstituível da mãe, em um processo de aprendizado e de capacitação para se enfrentar o "terror da solidão": sono em troca de colo, de embalos, de cantigas de ninar, de histórias contadas, de dormir na cama dos pais e a "certeza" de que ninguém estará longe se eu precisar...
Esse processo de mediação fundamental para o aprendizado do bebê, foi descrito por Donald Woods Winnicott (importante pediatra e psicanalista inglês - ) como "trocas “transicionais”: negociações, substituições, deslocamentos e equivalências.

As capacidades de “estar só” e de “saber esperar” do adulto, estão relacionadas ao resultado e a qualidade desse processo de crescimento interno e de amadurecimento emocional. No entanto, ao contrário de uma criança, o adulto é um sujeito cuja estrutura já se definiu e se estabilizou. Para o sujeito insone, não conseguir "sair de cena" e "estar consigo mesmo" durante o sono, pode estar associado a fantasia de que: "mantendo o controle" não estarei sozinho e não serei abandonado..."  Essa fantasia de que podemos "controlar" o mundo e aqueles que estão a nossa volta, podemos chamar de "ansiedade". Assim, o sintoma de insônia deve ser compreendido no seio de sua história pessoal e sintomática, bem como em relação com as contingências factuais e psíquicas atuais.

Podemos pensar que a história pessoal de um indivíduo esteja baseada e construída não somente com seu conteúdo psíquico, mas também na relação que tem com o “outro”, através dos vínculos sociais. Para os diversos vínculos existentes, os sujeitos representam papéis que, de alguma maneira consciente ou inconsciente, decidiram por assumir e interpretar.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Insônia Crônica (psicofisiológica) - Definição e Classificação

A insônia é definida como a percepção de sono insuficiente, motivada pela incapacidade de iniciar e manter o sono. Na classificação a AASM, as insônias são definidas da seguinte forma:

 Insônia Aguda

 Insônia Psicofisiológica

 Insônia Idiopática

 Insônia devido a distúrbios mentais

 Higiene do sono inadequada

 Insônia comportamental da infância

 Insônia relacionada a uso de drogas

 Insônia devido a condições médicas

 Insônia inespecífica

 Insônia psicofisiológica inespecífica

As causas da insônia podem ter origens primárias ou secundárias e, na insônia crônica, é freqüente a presença de mais de uma causa, havendo necessidade de ampla avaliação de cada paciente. As insônias, na maioria das vezes, são agrupadas em insônias transitórias (vários dias – gravidade leve), insônias de curta duração (até três semanas – gravidade moderada) e, insônias crônicas (mais de três semanas – gravidade grave). O tratamento mais utilizado atualmente para as insônias crônicas é a combinação entre tratamento farmacológico e Terapia Comportamental Cognitiva (TCC). Outras abordagens psicológicas como grupos de psicodrama estão sendo experimentadas e avaliadas.

Distúrbios do Sono - Conceito e Classificação

Podemos pensar os transtornos do sono, como sintomas e sinais que, de alguma forma, expressam algo acerca de um funcionamento mais geral, numa complexa combinação de fatores ambientais, orgânicos e psíquicos. Os estados de vigília e de sono apresentam três sinais fisiológicos básicos, que hoje, graças a tecnologia, podem ser registrados e medidos, permitindo-se a obtenção de padrões característicos no eletroencefalograma (EEG): a) atividade elétrica do cérebro, b) movimentos oculares (EOG) e c) atividade muscular (EMG) 3.


Procurando produzir uma linguagem única na identificação dos distúrbios do sono, criou-se a Classificação Internacional dos Transtornos do Sono, DSM-IV-TR E CID-9-CM. Através dessa classificação, há uma listagem com mais de oitenta distúrbios já catalogados e organizados com base nas seguintes categorias 4:

• Insônia;

• Distúrbios respiratórios associados ao sono;

• Hipersonias de origem central não relacionadas a desordens do ritmo circadiano, distúrbios respiratórios do sono, ou outra causa de distúrbio noturno do sono;

• Distúrbios do sono associados ao ritmo circadiano;

• Parassonias;

• Distúrbios do movimento relacionados ao sono;

• Sintomas isolados, Variantes aparentemente normais, Pendências;

• Outros distúrbios do sono.

O sono

O sono é um estado psicofisiológico de fundamental importância para a existência humana. Pode-se afirmar que o sono é uma necessidade básica para a sobrevivência, tanto quanto a nutrição. Embora o ser humano seja capaz de suportar um bom período de jejum, experiências com animais têm demonstrado que, se privados de dormir, passam a apresentar graves alterações de comportamento e alterações metabólicas, potencialmente mortais. Curiosamente, trata-se de um processo ativo. Não dormimos apenas devido à redução no estímulo sensorial, mas devido, tanto ao decréscimo na estimulação sensorial, quanto ao aumento na atividade dos sistemas cerebrais que promovem o sono. Pensando no sono como uma atividade restauradora e primordial, a hora de dormir delimita as fronteiras entre um mundo externo e compartilhado, e um mundo interno, misterioso e solitário. Um movimento cíclico permanente que, ao despertar, nos projeta para o mundo externo para viver e compartilhar e, com o adormecer, faz com que nos voltemos para as próprias entranhas, em busca não só da restauração das forças do corpo, mas, do fortalecimento da capacidade de simbolizar e interpretar a vida.